EXCLUSIVO: Via Varejo investiga possível fraude em balanços da companhia

A Via Varejo (VVAR3) investiga há cerca de um mês possíveis fraudes nos balanços financeiros da empresa. O SUNO Notícias apurou que a varejista, dona das marcas Casas Bahia, Ponto Frio e Extra.com, busca averiguar se executivos da própria empresa cometeram irregularidades na elaboração e divulgação de informações financeiras da companhia.

Após as relevações do SUNO Notícias, as ações da empresa foram suspensas do pregão por cerca de vinte minutos e chegaram a cair 9%. A Via Varejo também soltou fato relevante acerca do assunto.

Há cerca de um mês, a área de compliance da Via Varejo recebeu uma denúncia sobre possíveis práticas ilícitas de executivos da empresa. Logo depois do recebimento, a varejista contratou advogados e auditores para auxiliar na investigação, dado a riqueza dos detalhes das operações que a denúncia continha.

Segundo fontes consultadas pelo SUNO Notícias com conhecimento da investigação interna, executivos da Via Varejo contabilizaram despesas como CAPEX (Capital Expenditure), como se o montante fosse destinado a investimentos para a melhoria da operação, quando, na verdade, o dinheiro teria sido destinado a gastos de OPEX (Operational Expenditure), ou seja, destinado para despesa operacionais.

A manipulação ocorreria pela possibilidade de transformar, no futuro, as despesas de CAPEX em receita e diminuir as provisões da companhia. Dessa forma, o retorno sobre investimento da empresa seria maior que o real, já que investimentos em CAPEX podem se transformar em benefícios futuros, enquanto que em OPEX, que englobam pagamentos de salários, contas regulares, entre outros, são apenas gastos cotidianos.

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“O OPEX é uma despesa no DRE da empresa e impacta diretamente o lucro. Se essa despesa é colocada como CAPEX, ela se transforma em um ativo”, disse um especialista em contabilidade de empresas que prefere não se identificar.

“Fazendo isso, a empresa aumenta seu lucro imediato do trimestre da empresa e constrói um ativo que, na verdade, não existe”, concluiu.

Além disso, a denúncia que a Via Varejo recebeu aponta que depósitos judiciais também não estavam em provisão. Essa parte da investigação mostra que foram excluídos processos jurídicos como forma de reduzir despesas necessárias. As planilhas utilizadas pelo departamento jurídico também foram manipuladas.

Em relação a garantias trabalhistas que estavam nessas planilhas, a investigação identificou que inúmeras delas já tinham sido realizadas e permaneceram como ativo para melhorar o desempenho contábil.

Há também despesas colocadas de forma inadequada nos Gastos Gerais de Fabricação (GGF), termo utilizado na contabilidade para alocar custos com aluguéis, energia, depreciação, entre outros.

Para investigar o caso, a Via Varejo contratou o escritório de advocacia Pinheiro Neto, de São Paulo, que, para auxiliar na investigação, recorreu a KPMG – uma das quatro empresas de auditoria mais importantes do mundo. Além disso, a EY, que já audita os balanços da empresa, acompanha toda a operação.

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Ainda não há, contudo, uma conclusão das investigações realizadas por tais auditores externos. Portanto, o caso ainda não foi levado às autoridades externas competentes.

Há também a possibilidade de a adulteração ficar abaixo de R$ 100 milhões, montante do princípio de materialidade da Via Varejo, o que livraria a companhia de divulgar o resultado das investigações ao mercado.

A adulteração de resultados financeiros em balanço pode resultar na possibilidade de punição e aplicação de multas aos envolvidos e à empresa pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de acordo com especialistas.

Informações para acionistas da Via Varejo

Após receber a denúncia, a gigante varejista optou por investigar a conduta dos colaboradores para evitar problemas maiores. Essa colaboração e a iniciativa da Via Varejo em apurar o caso evitaria multas futuras na possibilidade de o caso causar problemas com os órgãos reguladores.

Caso a Via Varejo ache, nesta investigação, imprecisões maiores que o princípio de materialidade da companhia, ela deve divulgar as informações aos acionistas em fato relevante. O piso para isso, segundo o setor de Relações com Investidores da companhia, é de R$ 100 milhões.

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De qualquer forma, caso as demonstrações financeiras apresentem erros, e, mesmo que abaixo do princípio de materialidade, os dados deverão ser corrigidos. Se necessário, em período posterior ao balanço já publicado, a informação corrigida precisa ser apresentada em demonstração posterior.

Os resultado do terceiro trimestre de 2019 da Via Varejo serão divulgados nesta quarta-feira (13) após o fechamento do mercado.

Mudanças no comando da empresa

Em junho, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) vendeu a sua participação de 36% na Via Varejo para a família Klein em um “pool” de fundos. Além disso, Michael Klein, filho de Samuel Klein, que fundou a Casas Bahia em 1952, foi eleito presidente do conselho.

A Via Varejo passa por mudanças no comando da companhia desde o fim do segundo trimestre deste ano. Neste processo, cerca de 12 executivos foram demitidos, principalmente os que foram indicados pela GPA.

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A mudança é parte da estratégia de a varejista voltar ao jogo de maneira mais competitiva para disputar mercado com concorrentes como Amazon, Lojas Americanas e, principalmente, Magazine Luiza – que vem apresentados bons resultados e agradando investidores aliando boa gestão, presença física e online.

O lucro bruto consolidado da Via Varejo foi de R$ 1,7 bilhão no segundo trimestre deste ano, com EBITDA ajustado de R$ 388 milhões. A receita bruta consolidada foi de R$ 7 bilhões, 4,3% inferior em relação ao mesmo período do ano passado.

Procurada, a Via Varejo afirmou que não irá comentar o caso. O escritório Pinheiro Neto, que auxilia nas investigações, e a EY, que audita o balanço, também não se posicionaram até a publicação desta reportagem.

Vinicius Pereira

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