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Veto de Bolsonaro a Huawei pode trazer complicações à economia

A Huawei já figurou como maior fabricante de smartphones do mundo, mas atualmente sofre com sanções dos EUA. Foto: Divulgação Huawei

A Huawei já figurou como maior fabricante de smartphones do mundo, mas atualmente sofre com sanções dos EUA. Foto: Divulgação Huawei

O possível veto do governo Bolsonaro a participação da Huawei do leilão de equipamentos para a rede 5G no Brasil pode trazer consequências negativas à economia, mas dificilmente afetaria empresas que têm mercado na China, como JBS (JBSS3), BRF (BRFS3) ou Vale (VALE3), segundo especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, ainda estuda se irá banir a Huawei de fornecer equipamentos para rede 5G, cujo leilão entre as operadoras telefônicas deve ocorrer no segundo trimestre de 2021, enquanto integrantes do governo dos EUA pressionam a favor do veto da companhia chinesa.

De acordo com Vinicius Rodrigues Vieira, professor dos cursos de Economia e Relações Internacionais da FAAP, o veto a Huawei deverá trazer retaliações por parte do governo chinês ao Brasil, prejudicando investimentos de empresas chinesas por aqui e as exportações do País.

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“No curto prazo são investimentos. O Brasil já precisava e, depois da covid-19, necessita ainda mais. O governo tem uma agenda ampla de privatizações e concessões e a China é um dos poucos atores com capital para isso. O governo busca alternativas pelos árabes e da Índia, mas, mesmo assim, a China ainda é a mais forte”, disse.

Já no longo prazo, a China poderia procurar alternativas para os produtos brasileiros comercializados por lá, como a soja e o minério de ferro, de acordo com a avaliação de Vieira.

“Os chineses agem estrategicamente, conhecem muito sobre os países e eu entendo que eles vão procurar fontes alternativas para suprir as matérias primas das quais eles precisam. Uma é o minério de ferro e a outra é a soja. Ela é o principal produto de exportação hoje e a guerra comercial entre China e EUA”, afirmou.

Para o professor, apesar de o Brasil ter poder de barganha agora, já que a China possui dificuldade de encontrar outro fornecedor com a capacidade brasileira, o jogo pode mudar no longo prazo.

“No longo prazo, não me surpreenderei se a China estimular um projeto de desenvolvimento de plantio de soja em áreas com clima e solo parecidos com o Cerrado brasileiro, como na África, por exemplo”, completou.

Vale, BRF e JBS seriam afetadas?

Para Pedro Galdi, analista da Mirae, esse poder de barganha do Brasil ajudaria o País a segurar o ímpeto de retaliações chinesas, não afetando a balança comercial, as contas públicas e, também, as empresas brasileiras.

“Eles precisam de nossa soja, de petróleo e minério de ferro brasileiro”, disse.

De acordo com Henrique Esteter, analista da Guide, apesar de existir uma preocupação em relação a possíveis retaliações, a China necessita da proteína cedida por empresas como JBS (JBSS3) e BRF (BRFS3), além do minério de ferro da Vale (VALE3) para manter o incentivo a infraestrutura local.

“Caso ela não compre minério da Vale, ela vai ter que pagar muito mais caro para outras fornecedoras e também não será suficiente”, disse o analista.

“A mesma coisa para BRF e JBS. Com a febre suína africana, que acabou dizimando o rebanho na China, eles precisam comprar carne e se não comprarem dessas empresas, o país como um todo vai pagar muito mais caro”, afirmou.

Por isso, na avaliação de Esteter, a China não tomaria medidas consideradas contraproducentes como vetar o mercado doméstico para empresas brasileiras — ao menos no curto e médio prazos.

China é principal parceiro comercial

Mesmo em meio as tensões acerca da Huawei, os especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias acreditam que a questão é estratégica e deve ser conduzida com cuidado pelo governo Bolsonaro dado a importância do país asiático para a economia e o crescimento futuro do PIB brasileiro.

No acumulado deste ano até setembro, mês do último dado disponível, a China é a principal fonte de contribuição para o superávit da balança comercial do Brasil, com saldo de US$ 28,7 bilhões no acumulado do período, segundo dados do Ministério da Economia. O país comprou nos nove primeiros meses do ano US$ 53,4 bilhões de produtos brasileiros, enquanto vendeu US$ 24,63 bilhões.

O país é destino de 35% das exportações brasileiras -longe do segundo lugar, ocupado pela União Europeia, com 14%.

O resultado expressivo em relação a China é oriundo da exportação de commodities, como soja em grão, minério de fero e petróleo, que, juntos, correspondem a cerca de 80% das exportações brasileiras ao país.

Pressão contra a Huawei

É nesse contexto econômico que o Brasil estuda o veto a empresa Huawei. No início deste mês, o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, afirmou que uma decisão do País de permitir, ou não, que a Huawei Technologies forneça a tecnologia para estruturar a sua rede 5G ajudará a definir o relacionamento mais amplo com a China.

A posição foi comunicada semanas após os Estados Unidos advertirem o País sobre “consequências” na hipótese de os chineses participarem do desenvolvimento da rede móvel de quinta geração brasileira.

O presidente dos EUA, Donald Trump, vem fazendo campanha aberta para que países aliados dos EUA vetem a presença da Huawei em leilões de 5G.

Nesta semana, a delegação dos EUA, que está no Brasil para a conclusão do acordo comercial, afirmou que o país norte-americano está disposto a financiar “qualquer investimento” no setor de telecomunicações.

A proposta tem como objetivo a campanha contra a empresa chinesa Huawei no território brasileiro e segue a linha de pressões que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) historicamente enfrenta.

“Acho que o Brasil tem condições de fazer uma barganha de uma melhor maneira. Se for para vetar a Huawei, há um ditado na política internacional que você não cede para um amigo sem ter nada em troca. Então, poderíamos melhorar nossa entrada de produtos manufaturados nos EUA, por exemplo”, disse.

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