Uber: Por que o modelo de negócios da empresa não gera lucro?

Sediada na Califórnia e fundada em 2009, por Travis Kalanick e Garret Camp, a Uber (NYSE: UBER) começou com uma proposta de “táxi de luxo” e, com o passar do tempo, mudou suas diretrizes oferecendo seu serviço a preços mais populares do que o do táxi tradicional. O que intriga o mercado, entretanto, é que o modelo de negócios da companhia, para muitos especialistas, não se sustenta.

A Uber chegou ao Brasil em 2014, começando com operações na cidade do Rio de Janeiro. A empresa atua hoje em mais de 900 cidades de 60 países. A empresa, desde sua fundação, utiliza uma espécie de “capitalismo consciente” como ideal. Esse modelo visa gerar valor para a sociedade e não somente lucro para a companhia. Apesar de ser algo muito bom no papel, a ideia, na prática, não tem dado muito certo. Isso porque a companhia vem reportando diversos resultados negativos ao longo dos anos.

 

Para o professor em controladoria e finanças da ESPM, Adriano Gomes, a Uber é uma empresa “concebida e gerida com visão de um mundo diferente, mas com as referências do passado”. Tal modelo faz com que a companhia não alcance resultados positivos, apesar de vender bastante.

“[A Uber] é uma das empresas pioneiras no processo de ‘economia digital’, mas construída, na largada, sob premissas e conceitos de ‘economia analógica'”, disse Gomes em entrevista ao Suno Notícias.

“Isso sugere que, no momento da elaboração do plano e projeções, se tenha vislumbrado o cenário clássico da alavancagem operacional, ou seja, a estabilização dos gastos fixos e aumento brutal da receita“, acrescentou o professor.

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Em fevereiro deste ano, o presidente da Uber, Dara Khosrowshahi, afirmou que a empresa havia encerrado a sua “era do crescimento a todo custo”. Ou seja, em outras palavras, a busca por lucro e a diminuição do prejuízo aconteceria neste ano. Entretanto, assim como todas as empresas, a Uber não esperava que uma crise gerada por uma pandemia acometeria ainda mais seus negócios.

De acordo com Gomes, a parte final da ideia inicial da Uber [de aumento brutal da receita] funcionou, já que a companhia, do início de 2016 a 2019, está aumentando suas vendas a uma taxa aproximada de 54,4% anuais. Entretanto, o professor destaca que “provavelmente, o que não se previa, era o enorme gasto da operação para sustentar um nível de atividade desta envergadura”.

Prejuízo da Uber no primeiro trimestre de 2020

O prejuízo da Uber cresceu 190% no primeiro trimestre de 2020. A empresa registrou um resultado negativo de US$ 2,936 bilhões (cerca de R$ 17 bilhões) entre janeiro e março deste ano, contra um resultado negativo de US$ 1,012 bilhão no mesmo intervalo do ano passado. O aplicativo de transporte divulgou seu resultado trimestral no dia 7 de abril.

O CEO da Uber afirmou que os efeitos da pandemia de coronavírus atingiram fortemente a companhia neste ano. “Enquanto nosso negócio de corridas foi duramente atingido pela pandemia em curso, tomamos medidas rápidas para preservar a força de nosso balanço, focar recursos adicionais no Uber Eats e nos preparar para qualquer cenário de recuperação”, disse Dara Khosrowshahi.

Em 2019, entretanto, a empresa apresentou um prejuízo líquido de US$ 8,51 bilhões em 2019. O CEO da Uber chegou a dizer, por meio de um comunicado, na divulgação do resultado de 2019, que a empresa alterou uma previsão de crescimento do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que seria para 2021, para o quarto trimestre deste ano, o que animou o mercado.

Entretanto, em janeiro, ainda não havia informações sobre o coronavírus, que abalou as projeções da empresa para este ano. “Não somente a Uber como todas as empresas farão uma reviravolta em sua forma de se comunicar com seus clientes e prospects e os produtos e serviços serão cada vez mais rarefeitos. Isso implica, obrigatoriamente, na formação de uma equipe de gestão profundamente ligada nas atividades, a eliminação de postos de gestão intermediários, que em geral não contribuem em nada para a melhoria dos resultados, e sua submissão total às necessidades do cliente, sem mais espaços para ‘ideias brilhantes’ sem contato com a realidade”, analisou o professor de finanças da ESPM.

Demissões em meio à crise gerada pela pandemia e concorrência com a 99

A Uber Technologies cortou o emprego de aproximadamente 3700 colaboradores para diminuir seus custos, devido a crise ocasionada pela pandemia de coronavírus. A informação foi divulgada no dia 6 de maio.

Por outro lado, a 99 Táxi foi na contramão da Uber e afirmou que não iria demitir funcionários por conta da crise de coronavírus. O diretor-geral da empresa, Mi Yang, disse que a 99 é responsável pela renda de 700 mil motoristas do aplicativo no Brasil, além de contribuir para a mobilidade urbana de diversas cidades.

Yang salientou ainda que a 99 assumiu esse compromisso por ter um negócio sólido. “Temos um negócio sólido, com fundamentos que continuam fortes, especialmente no mercado da China, onde se recuperou mais de 60% do volume de corridas pré-pandemia. Seguiremos trabalhando com muita energia e eficiência, como sempre fizemos, e precisamos continuar com a barra elevada para manter o alto desempenho do nosso time. Fiquem seguros”, disse o diretor-geral da 99.

Entenda como tem sido a relação de receita e despesas da Uber

O professor de finanças da ESPM explicou que em 2016, para cada US$ 1 de receita, a Uber gastava com despesas (fora o custo), US$ 1,79. “O desempenho foi melhorando com esse valor caindo para US$ 1,51 (2017) US$ 0,97 (2018) e ano passado subiu novamente para US$ 1,58. Isso sem contar com os custos relacionado ao ato de produzir a receita de modo direto que em 2019 representaram 67,2% de tudo que foi produzido na empresa”, explicou Gomes.

A Uber, entretanto, tem procurado se adaptar ao cenário atual. Em meio a perdas de ferramentas, como a da “Uber Juntos”, por conta da pandemia, a companhia lançou, recentemente, o Uber Flash, que consiste em uma nova funcionalidade da empresa, que permite o envio de objetos e artigos pessoais para qualquer endereço dentro de suas cidades e países de atuação.

Juliano Passaro

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