Solis: crédito passará por crise e mercado de FIDCs deve se fortalecer

O mercado de crédito deve passar por maus bocados após a pandemia do coronavírus (covid-19), mas o mercado de FIDC (Fundo de Investimentos em Direito Creditório) deve se fortalecer para preencher as lacunas do mercado, segundo avaliação de Ricardo Binelli, gestor da Solis Investimentos.

“Acho que o investimento em crédito vai passar por um importante movimento de reflexão, com os investidores discutindo as várias classes de ativos, com setores mais atingidos, passando fases mais duras de renegociações e calotes”, afirmou Binelli.

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“Os FIDCs vão acessar mais as carteiras. Nesse contexto, você consegue ter carteiras mais saudáveis. No segundo momento, esses fundos serão ajudados a resolver algum problema pontual de empresas inadimplentes”, disse o gestor.

Dessa forma, após a crise, os FIDCs irão ganhar importância no mercado graças ao temor dos bancos em conceder crédito, como já vem ocorrendo no País, segundo o gestor.

“Quando a atividade começar a retomar, nós iremos enxergar os bancos reticentes em dar crédito. Várias empresas, de boa qualidade de crédito, que até pouco tempo atrás não acessavam FIDCs, vão passar a acessar”, disse Binelli.

Confira a entrevista exclusiva do SUNO Notícias com Ricardo Binelli, gestor da Solis Investimentos:

-Me fale um pouco da história da Solis e um pouco da filosofia de investimentos da casa..
A Solis é uma empresa nascida em 2016, mas a equipe trabalha junto há anos e temos todo um histórico de atuação de crédito estruturado e dos FIDCs. Hoje temos cerca de R$ 4,2 bilhões sob gestão.

O patrimônio está dividido em duas linhas : a gestão de FIDCs e o mercado nos conhece por nossos fundos que compram cotas de FIDCs.

O que a gente entende, fundamentalmente, é que o FIDC é um instrumento de crédito que acaba operando muito mais perto do spread real da economia, ou seja, se você pegar os números do BC e ver as taxas praticadas são muito diferentes da Selic. Ou seja, entendemos na Solis que do lado da matéria prima para remunerar, os FIDCs são ferramentas muito interessantes, principalmente me um mundo de juros baixos.

Além disso, na nossa visão, um FIDC com o mínimo de governança, a possibilidade de você perder dinheiro por problema de crédito é muito mitigada.

Entendemos que um FDIC conceitualmente falando, com toda essa proteção, então uma carteira de FIDCs dá uma proteção ainda maior.

-Como você vê essa crise atual?
Eu acho que é uma crise que ela vem acompanhada de componentes que a gente não tinha experimentado ainda. Onde você tem um fluxo de informações não exatamente precisas, mas você tem um fluxo desalinhados e conflitantes de informação, principalmente no Brasil, com uma diversidade de abordagem da crise.

Todo mundo começou essa crise entendendo que ela teria começo, meio e fim, mas sem conseguir modificar o retorno. Como o tempo de redução da atividade vem se estendendo dado que não temos uma percepção de quando isso acabará.

-Como está o mercado de crédito? Qual dimensão dos novos riscos?
Eu entendo que os problemas de crédito vão ser relevantes. As empresas, sem ter capacidade de gerar receita, terão dificuldades de pagar seus endividamentos. A maneira de provisionar isso no balanço também vai limitar os bancos de dar crédito. Eu acho que esse segmento dos FIDCs vão cumprir um papel importante.

O que acontece é que eles são fundos com carteiras muito pulverizadas, de prazo curtos, então ainda que tenha verificado um crescimento de vencido e aumento de provisionamento em suas carreiras, a coisa ficou sob controle.

Você protege o investidor com cotas subordinadas, que nessa classe de ativos, fica acima de que o regulamento prevê. Então, você investidor, conta com um excesso de proteção.

Por isso, como esse pessoal tem conseguido cobrir boa parte dessa carteira, ou seja, o dinheiro que os fundos emprestaram estão voltando, o que deverá acontecer é o poder de escolha. Há algum tempo atrás ele comprou uma duplicata em um setor do comércio, por exemplo. Agora, ele não precisa mais, ele pode procurar alguma empresa que vem indo bem para se defender.

Quando a atividade começar a retomar, nós iremos enxergar os bancos reticentes em dar crédito. Várias empresas, de boa qualidade de crédito, que até pouco tempo atrás não acessavam FIDCs, vão passar a acessar.

Os FIDCs vão acessar mais as carteiras. Nesse contexto, você consegue ter carteiras mais saudáveis. No segundo momento, esses fundos serão ajudados a resolver algum problema pontual de empresas inadimplentes.

Acho que o investimento em crédito vai passar por um importante movimento de reflexão, com os investidores discutindo as várias classes de ativos, com setores mais atingidos, passando fases mais duras de renegociações e calotes, mas alguns outros têm condições de se posicionar.

Entendemos que esse segmento em que atuamos tem uma situação de ter o poder de escolha. No momento em que retomar, esses caras vão ter a capacidade de selecionar maior.

-Antes da crise, os brasileiros tomaram risco demais?
O ponto principal, que parece o investidor vai ter que refletir, é sobre as caixinhas. Que dinheiro vai ter e para qual objetivo. Isso acabou escapando um pouco do investidor, com um raciocínio prejudicado dado que a Selic caiu.

O crédito estruturado gera um nível de retorno usualmente maior. É um retorno competitivo.

Quando você tiver uma estabilidade da economia, você terá preços normais e, em um ambiente de preços normais, é natural que o produto de crédito estruturado ofereça um retorno diferente.

Ele é um produto que atua mais perto de crédito efetivo da economia, ou seja, ele tem condições de remunerar e tem condições interessantes que a estrutura oferece. Até o final de abril, nosso fundo acumulava cerca de 130% do CDI no ano.

Mas o CDI ficou baixo agora. Além disso, você olha os outros fundos, a grande maioria tem rentabilidade negativa. Conseguimos oferecer retornos positivos, me parece um prazo muito tranquilo, e o investidor deve absorver que retornos adicionais precisarão de mais risco ou maior prazo.

Entendo que nosso veículo é um agregador de valor nas carteiras. Então ele serve tanto para o investidor mais conservador puxar prêmio na carteira ou para o investidor buscar mais volatilidade.

O crédito estruturado, em especial o FIDC, é uma ferramenta muito poderosa para se entregar risco retorno, mas é necessário conhecer o produto.

Você precisa ter um pedaço da sua carteira com um nível X de estabilidade e outro pedaço onde você vai fazer esse trânsito entre o que está bom naquele momento para comprar. Essa me parece uma reflexão importante. Nosso ativo, o lado bom, é que dificilmente nós vamos deixar de entregar um retorno consistente.

O lado negativo é que eu não tenho o discurso da oportunidade. Não vai ficar barato, mas também não vai cair. Opa, chegou a hora do FDIC.

Entrevista com Solis Investimentos

Vinicius Pereira

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