Smiles vê concorrência e gestão atrapalharem céu de brigadeiro

Se a indústria de fidelidade era um arco-íris, belo e reluzente no céu do setor de aviação, a Smiles (SMLS3) era o pote de ouro no final. Rentável e bem avaliada pelo mercado, a empresa de milhagem voava sozinha no setor.

Só que o sonho de uma companhia admirável ao mercado parece ter ruído. Só nesta semana, as ações da Smiles chegaram a cair mais de 10%, cotadas a cerca de R$ 30, amargando 23% de desvalorização só neste ano (enquanto o Ibovespa sobe cerca de 26%). Há cerca de dois anos atrás, o momento era muito mais positivo: os papéis chegaram a casa dos R$ 80.

Mas, afinal, quais fatores levaram à desilusão da empresa perante o mercado? De acordo com especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias, a chegada de concorrentes fortes ao setor, aliado problemas de gestão societária fizeram com que a Smiles sofresse.

Smiles diminui previsões positivas

A crise da empresa pode ser visto claramente em suas últimas previsões. Na última terça, a Smiles divulgou um guidance projetando o futuro da empresa. No documento, a companhia previu que os resultados a vir não seriam tão positivos quanto o mercado esperava.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/04/1420x240-Banner-Home-1.png

A divulgação provocou a queda recente das ações pois a companhia afirmou que prevê uma alta entre 5% e 10% no faturamento bruto no ano que vem, enquanto que, para 2019, o percentual fica entre 11% e 12,5%.

“Não é um crescimento ruim no guidance, mas o mercado esperava mais da Smiles”, afirmou Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Investimentos. O Bradesco, por exemplo, esperava que essa margem de faturamento bruto ficasse em 13%.

Saiba mais: Smiles opera em forte queda após divulgação de guidance

Já a margem direta de resgates, que representam o percentual de consumidores utilizando suas milhas e impacta diretamente o lucro, tem uma previsão da intervalo de 37% a 38,2% neste ano e entre 25% a 30% em 2020, segundo a Smiles.

De acordo com o Bradesco, que cobre e empresa, a queda na previsão de lucro ocorre pela “deterioração de mix, com maior número de passagens resgatadas a preços comerciais, preços maiores de passagens no mercado doméstico, acesso menor a passagens internacionais e aumento da competição”.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/04/1420x240_TEXTO_CTA_A_V10.jpg

Para Silveira, graças a essas previsões, o mercado ajusta o valor do ativo em relação aquilo que a empresa pode entregar. “O múltiplo da Smiles é na casa de seis, enquanto o das concorrentes fica abaixo disso. Mas, antes ele chegava a dez”, afirmou o economista.

Concorrência e gestão atrapalham empresa

As últimas expectativas divulgadas já registram o peso da chegada de concorrentes fortes ao setor, como é o caso da Multiplus e Pass, da Latam, segundo especialistas.

“É mais ou menos o que ocorreu com a Cielo no setor de meio de pagamentos. Antes, navegava sozinha e com a chegada de concorrentes o mercado ficou mais competitivo”, disse uma fonte do setor com conhecimento do assunto.

“Isso fez com que aquelas margens de luro ficassem cada vez mais apertadas”, completou.

Além disso, desde outubro do ano passado, a Smiles passa por problemas na gestão. Independente desde 2013, quando lançou suas ações na B3, a empresa passa agora por uma disputa para ser reincorporada pela Gol.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/07/Ebook-Fundos-Imobiliarios-Desktop.jpg

Desde o IPO, os papéis da empresa tiveram altas relevantes graças aos bons resultados que a Smiles entregava. Sem muita concorrência, com gestão sólida, parceiras com outras aéreas, a empresa acumulou caixa.

Mas, tanto desempenho despertou o interesse dos controladores da Gol, que decidiram por reincorporar a empresa.

Logo, a Gol informou que não iria renovar a parceria com a Smiles, o que, para o mercado, foi uma jogada para diminuir o valor de mercado da empresa.

“O problema é que os minoritários não queriam ser reincorporados pela Gol, que, segundo eles, quer comprar a empresa por um valor abaixo do que realmente vale,”, disse a fonte.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2020/10/155de22d-relatorio-bdrs-2.0.png

Dessa forma, as empresas não chegaram a um acordo, o que deixou a Smiles sem muitas perspectivas de como sobreviver sem seu principal parceiro.

Agora, enquanto ainda não há uma definição sobre a possibilidade de alguma reintegração ocorrer e com um mercado cada vez mais competitivo, o valor de mercado da Smiles continua a sofrer. A ver os próximos capítulos.

Vinicius Pereira

Compartilhe sua opinião