Porque acabou a euforia das ações de maconha nas Bolsas de Valores

De tempos em tempos nos mercados financeiro estouram bolhas “vegetais”. Esse foi o caso da bolha das tulipas na Bolsa de Valores de Amsterdã, no século dezessete. E parece ser o caso do século 21, com a bolha da maconha.

A legalização da maconha no Canadá, África do Sul, Geórgia, Uruguai e em onze estados americanos abriu o caminho para a listagem na Bolsa de Valores de Toronto, a primeira a aceitá-las. Em 2018 alguns pioneiros começaram a emitir títulos ligados a produção legalizada da droga.

Em poucos meses os papeis começaram a ser procurados com entusiasmo por milhares de investidores convencidos do futuro próspero do negócio. Essa euforia da maconha começou a empurrar para o alto o valor das empresas produtoras. As quais, todavia, continuavam no vermelho e que conseguiam faturar poucos milhões por ano.

A euforia, no entanto, não durou muito: o verdadeiro mercado legal de cannabis, principalmente a vendas em lojas, teve sérios problemas para se tornar um negócio sólido.

O marketing ainda enfrenta muitos obstáculos, principalmente legais. As vendas muitas vezes continuam tendo restrições que, no final das contas, a deixam inviáveis. Até bancos estão boicotando as empresas envolvidas nesse mercado, por medo de retaliações legais por parte de governos nacionais.

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Por isso, nos últimos meses, as ações tiveram um forte revés. O Índice da Maconha, indicador que mede o desempenho das empresas do setor listadas em Toronto, perdeu 66% desde maio de 2019. Os investidores que apostaram  na primeira legalização das drogas viram US$ 30 bilhões (cerca de R$ 130 bilhões) se tornarem fumaça.

Vendas de maconha menores do que o esperado

As vendas da maconha legalizada e de produtos derivados não estão indo como o esperado. As previsões dos analistas eram de um crescimento rápido mês a mês. Entretanto, para ter uma comparação, no Canadá foram vendidos US$ 600 milhões em produtos ligados a droga nos primeiros 10 meses após a legalização. Nos estados dos EUA que liberalizaram a comercialização o faturamento, incluindo o da matéria-prima usada para fins farmacêuticos, foi de US$ 12 bilhões.

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As expectativas frustradas levaram para um excesso de produção, com a oferta que excede em muito a demanda, entupindo as prateleiras das lojas. Ao reduzir os preços ao consumidor (queda de 21% na Califórnia e de 8% em geral nos EUA em 2019) as previsões financeiras das empresas também foram se dissolvendo. E isso acabou impactando nas cotações na Bolsa.

O resultado é que o valor das empresas caiu brutalmente. Para citar apenas dois exemplos, a Canopy Growth, que valia US$ 17 bilhões em abril do ano passado, hoje tem um valor de mercado de apenas US$ 8. A MedMen, que há alguns meses anunciou a compra da Pharmacann para se tornar a maior produtora de cannabis, agora está na beira da falência. Suas ações perderam 94% do valor, a operação de compra foi abortada e a empresa está sem dinheiro até para pagar seus fornecedores.

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E a legalização até agora nem ajudou a derrotar o tráfico ilegal de drogas. Principalmente por duas razões: a primeira é o preço, com o produto legalizado ainda custando o dobro do concorrente ilegal. O segundo é a dificuldade de abrir lojas, especialmente no Canadá, devido aos obstáculos burocráticos impostos pelas administrações locais. Resultado: apenas 38% dos consumidores regulares no país adquirem o entorpecente em estabelecimentos legalizados. E nos Estados Unidos os números são semelhantes.

Otimistas com o futuro do setor

Mas os otimistas não param de sonhar. Segundo alguns analistas especializados, esse mercado deveria atingir US$ 35 bilhões em valor até 2025. Entretanto, as previsões até feitas para 2020 não se concretizaram minimamente.

Além disso, segundo eles, novos países legalizarão a maconha, os Estados Unidos deverão aprovar as regras para o uso do Tetraidrocanabinol (THC), o componente ativo da maconha, em alimentos e bebidas. em outros derivativos. Essa seria uma ajuda que abriria as portas para o negócio ficar mais rentável e seguro, eliminando de fato a concorrência de um mercado paralelo ilegal.

Por último, a esperança de quem aposta nesse mercado é que a demanda por cannabis para uso na indústria farmacêutica acabe forçando as autoridades bancárias dos EUA a autorizar os bancos a financiar essas empresas e comprar seus títulos sem correr o risco de serem acusados de lavagem de dinheiro.

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Entretanto, vários observadores alertam que o caminho para superar a “bolha da maconha” ainda é longo. A experiência dos últimos meses mostrou como a gestão das empresas produtoras era totalmente inadequado para enfrentar a euforia do momento. As empresas listadas, cerca de 300, são demais e, na corrida darwiniana pela lucratividade (ainda um sonho para quase todas elas, poucas alcançarão o objetivo. Muitas cairão tentando.

A questão para os investidores é tentar entender que sairá vitorioso dessa fase, pois apenas poucos sobreviverão a bolha da maconha.

Carlo Cauti

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