PIB: após resultado do 1T20, especialistas preveem ‘o pior pela frente’

Uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre já era esperada por causa do coronavírus (Covid-19). Com o recuo divulgado nesta sexta, de 1,5% ante o quarto trimestre de 2019, a dúvida é o tamanho do estrago que a pandemia fará na economia. Especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias acreditam que, apesar de já ser pior resultado desde 2015, os próximos números devem ser ainda piores.

Um dos motivos para essa percepção é que a pandemia causou pouco efeito no PIB do primeiro trimestre. Para José Ronaldo Souza Júnior, diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a mudança foi significativa desde então.

“Esse PIB está olhando pelo retrovisor. Os dois meses que se passaram [abril e maio] fizeram com que os dados divulgados hoje parecessem mais velhos do que o normal, porque a economia mudou drasticamente de lá para cá. Retratam um outro período, completamente diferente da economia brasileira”, afirma Souza.

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Adriano Gomes, mestre em Controladoria e Finanças da ESPM, diz que desde março houve o fechamento de atividades importantes, na ponta de consumo, com possíveis reflexos nos resultados dos próximos trimestres. Outro fator é a queda no emprego: 860 mil postos formais foram fechados em abril, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. Foi o pior mês em 29 anos.

“O último dado do CAGED mostra um total de 1.101.205 desempregados na pandemia. Portanto, menos consumo das famílias. Somente o agronegócio continua com seu funcionamento em condições normais, porém mirando a exportação com um dólar bastante interessante para esta finalidade”, avalia o professor.

Souza Júnior diz que há setores que foram mais afetados depois de março. “A produção de veículos, por exemplo, ficou 90% abaixo do ano passado em abril. Em maio, entretanto, o segmento mostrou uma pequena melhora, assim como alguns produtos da indústria metalúrgica e de minerais não metálicos”, disse.

Ele também sinaliza que o quadro ainda pode se agravar mais se houver restrição de atividades por mais tempo. “Muitas empresas já estão caminhando para um quadro falimentar e isso se agravaria mais se essas medidas drásticas de afastamento social continuassem por um período mais longo”, destacou o especialista.

Gomes também vê o cenário de uma prorrogação de medidas de restrição como algo perigoso, do ponto de vista econômico. “A continuar este cenário, o PIB pode sofrer o maior tombo histórico e, pior, sem perspectiva alguma de recuperação no curto e médio prazos. Pois, diferentemente de outras crises, esta está afetando a economia real, das transações entre as pessoas”, avaliou o professor.

Retomada econômica

Apesar da perspectiva ruim para os resultados do 2º trimestre, o diretor do IPEA, acredita que pode haver uma recuperação em algumas regiões a partir de junho. Essa retomada, no entanto, depende dos processos de reabertura. “A recuperação mais mais clara mesmo da economia brasileira só vai acontecer no terceiro e no quarto trimestre. Aí que a gente vai, de fato, ter uma volta paulatina ao normal da economia”, disse Souza Júnior.

Sobre as medidas que Souza acha que poderiam ser tomadas pelo Governo para evitar um colapso, ou diminuir uma crise ainda maior na economia, há, segundo ele, dois grupos.

O primeiro são as medidas de curtíssimo prazo para minimizar a perda de empregos e as falências de empresas. “São medidas que permitem flexibilidade no mercado de trabalho, que proporcionam algum crédito para empresas, diferimento de pagamento de impostos para aliviar o caixa. E também para manutenção da renda de autônomos”, diz o diretor do IPEA.

E para que a retomada econômica seja melhor e mais efetiva, seria preciso medidas de longo prazo para melhorar, entre outras coisas, o ambiente de negócios, como reformas reformas fiscais e reformas regulatórias. Além de investimentos, por exemplo, em infraestrutura.

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Gomes acredita que o principal para a recuperação do PIB deveria ser desregulamentar o máximo possível, para facilitar o acesso ao crédito. “Oferecer operações rápidas e eficazes para as empresas tomarem crédito via bancos oficiais (Caixa e Banco do Brasil), além de criar linhas rápidas de capital de giro para PME, via BNDES. O crédito literalmente está empoçado e cabe às autoridades monetárias criarem os mecanismos a fim de evitar a quebradeira generalizada e pedidos de recuperação judicial de empresas, que já começou”, disse o professor.

Juliano Passaro

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