Nota de R$ 200: Entenda porque seu lançamento não está ligado à inflação

Apesar da emissão da nova nota de R$ 200 levar um certo receio a muitas pessoas que viram cédulas de valores altos em uma outra época da história monetária do Brasil, a ação tomada pelo Banco Central (BC) não demonstra uma desvalorização da moeda local.

É compreensível a população pensar que a inflação pode ser o motivo do lançamento de novas cédulas, já que entre 1980 e 1994, antes do Plano Real, o País precisou lançar notas muito altas, como a de 500 mil cruzeiros (a maior já lançada), pois o poder de compra do dinheiro estava sendo reduzido drasticamente pela hiperinflação. O cenário, entretanto, era muito diferente do atual.

Nota de R$ 200
Poeta Mário de Andrade estampou nota de 500 mil cruzeiros, a maior já lançada no Brasil, em 1993.

Em coletiva realizada para o anúncio da nova cédula, na semana passada, a diretora de Administração do Banco Central, Carolina de Assis Barros, deixou claro que o movimento gerado para lançar uma nova nota no mercado não tinha nada a ver com a inflação e afirmou que era apenas uma ação preventiva para um possível aumento da demanda por numerário (dinheiro em espécie) por parte da população. “O Banco Central entende que a quantidade de papel moeda em circulação é adequada para fazer frente às diferentes necessidades da população. O BC tem atendido a rede bancária. Não há falta de numerários. A gente observou efeitos de entesouramento trazidos pela pandemia e não sabemos precisar neste momento por quanto tempo ele vai perdurar. O BC entende que o momento é oportuno para o lançamento dessa cédula de R$ 200”, disse a executiva.

O BC deixou claro que o lançamento não terá impacto na base monetária do País, ou seja, não será dinheiro a mais em circulação. Mesmo assim, muitas discussões foram criadas em torno do assunto. Para o mestre em controladoria e finanças, Adriano Gomes, a medida do BC é oportuna “no momento atípico da economia”. “Foram 38 milhões de pessoas que simplesmente foram esquecidas por todos os governos e que foram incorporadas ao sistema financeiro via o auxílio emergencial. Para estas pessoas, em especial, a utilização de papel moeda é parte de sua rotina e, consequentemente, ocorre a necessidade de injetar mais notas físicas para o público em geral”, disse o especialista em entrevista ao Suno Notícias.

Também no anúncio da nova cédula, a executiva do BC reiterou que “não há relação entre a colocação da nova cédula no mercado e a desvalorização do real”. Carolina afirmou que o Brasil se vale do sistema de metas para combater a inflação e, neste momento, a inflação do Brasil é “baixa, estável e as expectativas do BC estão ancoradas”.

Apesar de concordar com a fala da executiva sobre a inflação, Gomes diz que o argumento colocado pelo BC como base para este anúncio, que é o fenômeno do entesouramento, não explica o caso. “Tanto faz alguém sacar da poupança R$ 1.000 em 10 notas de R$ 100 ou 5 de R$ 200 e levar para debaixo de seu colchão; entesourando o valor. A questão aqui é mais de “logística monetária” que qualquer outra hipótese. Há mais demanda por papel moeda e invés de se imprimir duas notas de R$ 100, imprime-se uma de R$ 200″, explicou o mestre em controladoria e finanças.

Muitos jornalistas também perguntaram, no dia da coletiva sobre o lançamento da nota, se o Banco Central estava indo na contramão dos outros países do mundo, que cada vez mais focam no digital. Para Gomes, o BC não está na contramão. “Fez [o BC] uma das mais importantes ações no campo das transferências eletrônicas do mundo que é o PIX [sistema de pagamentos que permite transferências em tempo real]. Ocorre que ainda temos uma fatia enorme da população que é “desbancarizada” e, pior, eram invisíveis para o Estado. A pandemia escancarou este problema e o Estado com seu braço bancário, a Caixa Econômica Federal, alcançou em tempo recorde uma população equivalente a da Polônia”, afirmou o especialista.

A nova estampa e o lançamento da nota de R$ 200

O desenho da nova nota de R$ 200, que será lançada ao final deste mês, ainda não foi divulgado pelo Banco Central. Sabe-se apenas que o animal que estampará o papel será o Lobo Guará. O BC informou, através do Twitter, há uma semana, que o design da cédula será apresentado em breve, em seu lançamento oficial.

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Juliano Passaro

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