Mercado financeiro e economia real estão em descompasso, diz FMI

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o mercado financeiro e a economia real estão em descompasso. De acordo com o relatório de Estabilidade Financeira Global, divulgado nesta quinta-feira (25), os investidores mundiais não têm levado em consideração os possíveis impactados da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

Segundo o diretor do departamento de mercado de capitais e monetário do Fundo, Tobias Adrian, e o diretor associado Fabio Natalucci, o mercado financeiro têm mostrado um grande apetite ao risco, “apostando em um forte e duradouro suporte dos bancos centrais” para a recuperação econômica.

Segundo eles, os investidores contam com a ajuda das autoridades monetáricas centrais, mesmo que os dados econômicos mais recentes apontem para uma recessão mais intensa do que o estimado anteriormente.

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De acordo com os economistas do FMI, o grande problema são as incertezas sobre o cenário da pandemia. Caso haja uma frustração do mercado, a própria recuperação econômica passaria a ser mais ameaçada, devido à maior volatilidade dos ativos de risco.

Os especialistas apontam que “a recessão pode ser mais profunda e longa do que a antecipada atualmente pelos investidores”. Os economistas também alertaram para a possibilidade uma segunda de infecções da doença, como vem ocorrendo nos Estados Unidos, o que acarretaria em uma nova onda de medidas de conteção e isolamento social.

Adrian e Natalucci também salientaram os riscos inerentes às tensões geopolíticas, além de convulsões sociais em função da desigualdade social. “E, finalmente, as expectativas sobre a extensão do suporte dos BCs globais podem se revelar excessivamente otimistas, levando os investidores a reavaliar o apetite e a precificação do risco.”

Mercado financeiro otimista com os estímulos

Os principais bancos centrais do planeta, como o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos e o Banco Central Europeu (BCE), tem afrouxado as condições financeiros, com medidas de cortes de taxas de juros, compras de ativos — em muitos casos mais conhecidas como Quantitative Easing –, linhas de swap cambiais e facilidades de crédito e liquidez.

“A rápida e sem precedente ação dos BCs tem restaurado a confiança e impulsionado a tomada de risco pelos investidores, incluindo nos mercados emergentes, onde as compras de ativos têm se expandido”, disseram os especialistas.

No total, os fluxos de investimentos para portfólios têm se estabilizado, e “alguns países emergentes já experimentaram entradas líquidas modestas novamente”. Desde o início da pandemia, os BCs globais já ampliaram seus balanços em mais de US$ 6 trilhões (cerca de R$ 32,02 trilhões), mais do que em qualquer outro momento de crise. Devido aos esforços para conter as economias, o mercado acionário voltou a apresentar altas depois de fortes quedas em fevereiro e março.

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“De maneira geral, os riscos à estabilidade financeira no curto prazo mudaram pouco desde o último relatório de Estabilidade Financeira Global, diante das rápidas e fortes ações tomadas pelos formuladores de políticas, que ajudaram a amortecer os impactos da pandemia no cenário econômico global”, salientaram os economistas.

Os especialistas do FMI ressaltam que o desentendimento entre o mercado financeiro e os dados da economia real podem significar mais um fator de risco para a recuperação das economias no período pós-pandemia. “O mercado de baixa [bear market] ocorreu no passado durante períodos de pressões econômicas significativas”.

Jader Lazarini

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