Mercado está testando o BC sobre dólar, diz economista da Infinity Asset

Nos últimos dias o dólar passou a marca dos R$ 4,35. Um recorde histórico. A valorização da moeda dos Estados Unidos em relação ao real teve uma série de causas, entre as quais o fraco desempenho da economia brasileira, os temores sobre os impactos econômicos do coronavírus e também um defluxo de dólares do Brasil para o exterior.

Para tentar conter a alta do dólar o Banco Central (BC) decidiu intervir na última quinta-feira (13), realizando uma intervenção no mercado de câmbio. A instituição monetária central ofereceu no mercado 20 mil contratos de swap cambial.

A venda teve um valor de US$ 1 bilhão, com vencimento em agosto, outubro e dezembro 2020. Além disso, o Banco Central também ofertou 13 mil contratos com rolagem em abril. Entretanto, somente 10,5 mil foram adquiridos no pregão.

No dia seguinte, sexta-feira (14), o BC interveio mais uma vez, ofertando mais swaps por um valor de US$ 1 bilhão.

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Segundo Jason Vieira, Economista Chefe da Infinity Asset, o mercado estava “testando os limites do Banco Central, principalmente em termos de alta do dólar”.

Jason Vieira, Economista Chefe da Infinity Asset

“Acho que o andamento foi muito estranho nos últimos dias. O mercado testando os limites do Banco Central principalmente em termos de alta do dólar. Havia posições vendidas mais aceleradas, depois posições compradas, até fluxo positivo não fez o real se valorizar. foi algo peculiar”, explicou o economista ao SUNO Notícias.

Guedes ajuda a alta do dólar

Segundo Vieira, uma das causas que levaram também o dólar a se valorizar foi o discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, que sinalizou que o governo não interviria no mercado do câmbio mesmo com essa alta. Um discurso que gerou polêmicas pois falou das “empregadas domésticas” indo para a Disney graças ao dólar barato.

Para Vieira, esse foi um “desastre de comunicação”, que levou o mercado a apostar em mais valorização do dólar. “Essa situação obrigou o Banco Central a colocar um limite. Mas o mercado testou o BC e vai continuar testando. Não foi um movimento inerte”, explicou o economista.

Sobre futuras intervenções do BC, Vieira salientou como “não há nada de garantido”. “Não há nenhum sinal que mostre que o BC parou de atuar no mercado. Quinta e sexta foi um mercado relativamente esvaziado. Se tinha a impressão que os operadores estivessem esperando um pouco mais antes de atuar de novo”, disse o economista.

Vieira indicou nos riscos ligados a epidemia de coronavírus a razão dessa valorização da moeda norte-americana frente ao real. “Esse é um movimento que está se desenhando há um tempo, e em especial com a situação do coronavírus. Desde a pequena valorização do real no final do ano passado, em janeiro nossa moeda já começou a ‘apanhar’. A volatilidade do real é superior a média internacional das moedas emergentes”, declarou o economista, “A taxa básica de juros (Selic) tão baixa também elimina o diferencial com os juros internacionais, o que inibe o carry trade, que tanto ajudou o real no passado”.

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Sobre o coronavírus, para o Vieira é impossível prever o impacto dessa epidemia na atividade econômica global, sobre o fluxo de comércio e de investimentos. “Em caso de colapso da economia chinesa, o câmbio com o dólar será obviamente afetado. E não sabemos até agora qual o real impacto dentro da China dessa epidemia”, declarou o economista, explicando como esse clima de incerteza apavora os mercados, levando para o alto a cotação da moeda dos EUA.

Capitais estrangeiros aguardando as reformas

Por outro lado, os capitais internacionais não estão entrando no Brasil pois “estão aguardando mais avanços em relação as reformas”. “Os investidores estão de olho no Congresso, na reforma tributária, na PEC do saneamento. Dois pontos praticamente fundamentais para dar impulso ao câmbio”, indicou Vieira.

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“A expectativa média é de um retorno do investidor estrangeiro no Brasil, princialmente para projetos de infraestrutura. E esse investimento permitirá que o real se valorize. Mas tudo depende das reformas”, declarou o economista.

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Segundo Vieira, a Bolsa de Valores também é afetada por esse escasso interesse dos investidores estrangeiros, pois eles estão tentando entender qual é o limite máximo de desvalorização da divisa para comprar ações. “Eles precisam de um ponto de entrada, mas devem visualizar até que ponto o real vai se desvalorizar, senão vão ficar por fora”, explicou o economista, “O estrangeiro vai precificar a entrada quando ver estabilidade ou quando ver a resistência. Depois das ultimas falas do Guedes o dólar poderia chegar teoricamente a qualquer valor”.

Carlo Cauti

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