O mercado das companhias aéreas low-cost no Brasil

Com o processo de recuperação econômica do Brasil, diversas frentes de negócios voltam a ser viáveis. O viés liberal do governo Jair Bolsonaro, liderado pelo ministro da Economia Paulo Guedes, fez com que as companhias aéreas de baixo custo (low-cost) olhassem a abertura comercial do País com outros olhos.

Com as alterações na legislação vigente, as empresas aéreas low-cost passaram a se interessar ao Brasil. Além disso, com o desemprego, mesmo que de forma lenta, já apresentando sinais de retração e a volta do poder de compra pela população fazem com que o País voltasse a se atrativo.

No entanto, o setor de aviação brasileiro costuma apresentar grandes barreiras de entrada, além de apresentar um forte regulamento. Atualmente, o Brasil tem o maior número de ações legais contra empresas aéreas em todo o mundo, segundo a Associação internacional do Transporte Aéreo (Iata), por exemplo.

Peter Cerdá, vice-presidente da organização para as Américas, diz que o volume de ações legais no País é até 60% maior do que na maioria dos países similares, o que eleva os custos das empresas.

Confira: Governo quer reduzir custo de combustível para diminuir preço de passagens aéreas

Além disso, apresentar um resultado positivo aos acionistas das empresas não tem sido tarefa fácil. A Iata revelou, no final do ano passado, que as companhias aéreas na América Latina devem fechar 2019 com um prejuízo acumulado de US$ 400 milhões (cerca de R$ 1,7 bilhões na cotação atual), mas poderão se recuperar ligeiramente para um resultado positivo de US$ 100 milhões (R$ 425,7 milhões) neste ano.

O governo Bolsonaro, com o objetivo de atrair novas empresas para o setor, aumentando a concorrência que, por consequência, deve fazer os preços das passagens aéreas cair, visa colocar em prática um pacote de medidas para reduzir o valor do querosene de aviação em 2020.

Veja também: Coronavírus: UBS reduz projeção do PIB do Brasil por conta da epidemia

Uma das propostas que podem ser viabilizadas é o fim do PIS/Cofins sobre o combustível utilizado em aeronaves. “Não é uma discussão fácil, porque falar em redução de receita é complicado, mas entendemos que é uma opção que vai turbinar a economia do País”, afirmou Ronei Saggioro Glanzmann, chefe da Secretaria de Aviação Civil (SAC), em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”.

Entretanto, algumas empresas estrangeiras já adentraram o mercado brasileiro com propostas disruptivas no que tange ao comum. Com preços abaixo da média do mercado, alcançam um público que por vezes foi negligenciado pelas maiores companhias. Confira algumas das novas companhias aéreas que operam no Brasil.

Flybondi

Fundada na Argentina, em El Palomar, uma província de Buenos Aires, a Flybondi é a primeira companhia low-cost do vizinho sul-americano. A empresa realizou seu primeiro voo no Brasil no dia 11 de outubro do ano passado, ligando a capital argentina ao aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro.

A empresa ficou famosa por oferecer passagens por R$ 1, fora as taxas de embarque, no trecho citado. As passagens foram esgotadas rapidamente.

No dia 24 de janeiro, um dia antes do aniversário de 466 anos da cidade São Paulo, a companhia voou ligando a capital paulista a Buenos Aires pela primeira vez, passando também a atingir o público executivo.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/04/1420x240-Banner-Home-4.png

A empresa, em sua atividade no Brasil, tem cobrado pelo check-in no balcão, por uma refeição (um macarrão instantâneo por R$ 9,78) durante o voo e água (R$ 7,68).

Na capital paulista, os voos da Flybondi saem do aeroporto de Cumbica às segundas, quartas e sextas. A partir do mês que vem, serão quatro partidas por semana.

Sky Airline

Fundada no Chile em 2002, a Sky Airline transporta aproximadamente 350 mil passageiros mensalmente (segundo informações divulgadas pela empresa referentes a 2018), dominando pouco mais que 20% do mercado aéreo doméstico chileno.

Veja também: Rating do Brasil deve subir em 2020, diz J.P. Morgan

A companhia opera no Brasil desde novembro de 2018. As passagens custam a partir de US$ 77 (cerca de R$ 308) nos seguintes trechos:

  • Santiago-São Paulo (Guarulhos)
  • Santiago-Rio de Janeiro (Galeão)
  • Santiago-Florianópolis
  • Santiago-Salvador (a partir de 30 de dezembro)

Norwegian

A Norwegian é a única companhia low-cost que, em seus trechos de operação, liga o Brasil à Europa. O trecho de Londres-Rio de Janeiro custa a partir de R$ 1.355,39, abaixo do praticado no mercado.

A companhia de origem norueguesa emprega 10 mil funcionários, possui 500 rotas e receita líquida de aproximadamente US$ 4,4 bilhões (R$ 18,7 bilhões). Em 2018, foram transportados 37 milhões de passageiros.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/04/1420x240_TEXTO_CTA_A_V10.jpg

De 2013 a 2018, a Norwegian foi premiada como melhor companhia low-cost da Europa e melhor companhia low-cost de longo curso do mundo nos Prêmios Skytrax.

A Norwegian já está operando no Brasil. A companhia cobra R$ 42,95 por uma bagagem de mão. Caso o passageiro não tenha interesse em contratar o serviço, pode levar a bordo apenas uma bolsa ou mochila que caiba embaixo do assento.

Essa mochila deve ter 38 centímetros de altura, 30 centímetro de largura e 20 centímetros de profundidade, com peso máximo de 10 quilos.

Virgin Atlantic

A Virgin Atlantic Airways é uma das maiores operadoras aéreas do Reino Unido, especializada em voos intercontinentais de longo curso. No final de 2019, a companhia anunciou que passará a operar entre o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, e o Aeroporto Heathrow, em Londres.

O trecho será o primeiro da companhia na América do Sul e será operado em aeronaves Boeing 787-9 Dreamliner, uma das 46 aeronaves da empresa. O avião é preparado para transportar passageiros em três classes, sendo 31 na Classe Upper Class, 35 na Classe Premium e 192 na Classe Econômica.

Boeing 787-9 Dreamliner (divulgação)

A partir deste ano, o trecho citado custará a partir de US$ 751,20 (R$ 3.199,06), sendo realizado diariamente.

Air China

De certa forma, a Air China já é consolidada no Brasil. Atuante em território brasileiro desde 2009, especialmente em períodos de alta temporada. Desde março de 2019, a companhia opera regularmente, nos trechos de São Paulo (Guarulhos)-Madri-Pequim, duas vezes por semana.

A empresa é uma das líderes do setor em um dos maiores mercados consumidores do planeta. Possui 754 rotas, 684 aeronaves e transportou 110 milhões de clientes em 2018. A receita líquida da companhia neste período foi de aproximadamente US$ 19,3 bilhões.

JetSmart

Criada em 2017, a JetSmart é uma companhia das consideradas “ultra-low-cost“, de origem norte-americana e atua no Brasil por meio de sua subsidiária chilena. A operação foi autorizada em setembro do ano passado, mas os trechos anunciados Santiago-Salvador, Santiago-Foz do Iguaçu e Santiago-São Paulo (Guarulhos), estão ativos desde dezembro.

A expectativa da companhia é transportar 33 mil passageiros por ano entre Santiago e Salvador, com três voos semanais durante o verão e dois por semana no restante do ano.

Saiba mais: Preços das passagens aéreas devem diminuir, diz ministro

A empresa justifica os baixos preços com a medida de “cobrar do cliente só pelo serviço que ele de fato consome”. Dessa forma, a empresa tem tarifas específicas para despachar bagagem, marcar assento, check-in ou impressão de cartão de embarque no aeroporto e animal de estimação a bordo.

Com o passar do tempo, com a tendência de abertura comercial brasileira para as empresas de todo o mundo, as companhias aéreas, sobretudo as low-cost, poderão ver o mercado brasileiro como uma oportunidade de diversificação das operações.

Jader Lazarini

Compartilhe sua opinião