Melhor comprar ações “growth” ou ações “value”? Entenda a discussão

Melhor crescimento ou melhor valor? Growth ou value, nas versões em inglês?  No caso das ações, nos últimos meses essa dúvida começou a gerar uma discussão cada vez mais intensa nos mercados do mundo inteiro.

Segundo alguns analistas, as ações growth – aquelas com negócios que crescem rapidamente, mas que ainda não são capazes de apresentar lucros e dividendos altos e constantes – estariam muito “esticadas”, com múltiplos de preço que beirariam a irrealidade. Enquanto os papeis value – com negócios consolidados, bons pagadores de dividendos, mas com poucas margens de crescimento – nunca foram tão subestimados. Por isso, para alguns especialistas, talvez seja hora de recalibrar os portfólios

Desde 2007, na média mundial as ações value se valorizaram em média apenas 1%. Enquanto os papeis da categoria de crescimento cresceram em média de 140%.

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Dessa forma, mesmo juntado os dividendos dos títulos value, essa comparação é ganha de lavada pela categoria dos títulos growth. Calculando os lucros distribuídos e assumindo que o investidor os reinvestiu integralmente no mesmo período de tempo, as ações value geraram um desempenho de 62% desde 2007. Enquanto as de growth chegaram a 205%.

A vantagem das ações de alto crescimento sobre os papeis mais ligados aos retornos – chamados de “elefantes dos dividendos” –  aumentou sensivelmente durante a pandemia de coronavírus (covid-19). Isso é demonstrado pelo fato de que setores típicos de ações valor, como bancos e energia, ainda estão com suas cotações em forte baixa se comparadas com o período anterior ao colapso dos mercados entre fevereiro e março. Esses papeis apresentaram uma falsa recuperação, formando um gráfico em “L”.

Pelo contrário, as ações crescimento, representadas globalmente pelo índice Nasdaq, não apenas voltaram aos níveis anteriores à pandemia, mas estão em muitos casos superando seus máximos históricos, destacando graficamente uma recuperação em “V”.

O ponto é que os papeis growth nesse atual patamar de valorização estão começando a considerar cenários de crescimento muito otimistas, para não dizer surreais. Para ter uma ideia, nos níveis atuais, o Zoom vale cerca de 190 vezes os lucros esperados nos próximos 12 meses. Tesla mais de 180 vezes e tão idolatrada Amazon mais de 100. Também no caso das receitas, os preços são muito altos e estão crescendo exponencialmente: a Amazon vale quatro vezes a receita esperada, Apple 5,6 vezes, Facebook 7,3 vezes, Tesla e Netflix 8 e Zoom 43.

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Por esse motivo, alguns analistas estão começando a salientar que esse é o momento certo para reequilibrar a carteira. Uma passagem de ações com alto crescimento exponencial para papeis com valorização mais lenta, mas caracterizadas por negócios sólidos capazes de pagar constantemente os acionistas com dividendos: os “títulos-elefantes”. Lentos, maciços, porém sólidos.

Para o especialista em renda variável da SUNO Research, João Arthur Almeida,  “nessa questão do mercado olhar muito para múltiplos elevados e que tenham perspectivas de crescimento pode ser que alguns setores tenham ficado para trás. Dentre esses destaco o setor elétrico que por um investidor que consegue filtrar algumas boas empresas, com boa gestão e que não estejam caras, pode fazer bons negócios aí para os próximos dez anos”.

Ações value estariam subestimadas, diz JP Morgan

Um relatório recente do banco de investimento americano JP Morgan destaca que “o valor dessas ações é negociado em níveis de subestimação nunca vistos na história”. Na mesma análise, os especialistas relatam uma possível mudança de paradigma das Bolsas de Valores. Ou seja, um retorno da moda pelas ações valor, especialmente nos dias da distribuição dos resultados trimestrais.

Considerando o crescimento parabólico das ações growth, na base de uma análise fundamentalista o risco de decepção é maior do que a capacidade de surpreender. E é por isso que, pelo menos no curto prazo, o JP Morgan considera possível uma mudança para ações valor.

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Neste momento, pode fazer sentido começar a construir um plano de acumulação de ações valor. Isso pois porque, mesmo se não soubermos quando, o mercado um dia olhará para trás e provavelmente essa distância com as ações crescimentos poderá se reduzir.

Entretanto, é preciso salientar que a força intrínseca das ações growth continua alta, também porque os mercados estão dopados pelo excesso de liquidez injetada pelos bancos centrais do mundo inteiro. Além disso, porque muitas empresas em forte crescimento têm mostrado maior resiliência à pandemia. Razão pela qual, a médio e longo prazo, os especialistas do JP Morgan voltam a preferir ações em crescimento. Todavia, a dúvida cruel sobre se focar mais em ações crescimento ou nos elefantes dos dividendos também dominará as próximas discussões do mercado.

Segundo João Arthur Almeida, é necessário mudar de pensamento nesse debate. “Eu acredito que é preciso rever o conceito de value invest. Value invest não pode ser considerado comprar ações com múltiplo baixo. Ou empresa que não apresenta forte crescimento. Value invest tem que ser considerado comprar algo por um preço menor do que seu valor intrínseco. Seja ela uma empresa de crescimento ou não. Por exemplo, Banco Inter (BIDI4) no IPO era para mim um caso claro de value invest”

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Carlo Cauti

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