Por que um em cada cinco jovens cancelou seu perfil nas redes sociais

Em meio a quarentena causada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19) um em cada cinco jovens cancelou seu perfil em redes sociais, de acordo com o relatório Digital Society Index, divulgado recentemente pela japonesa Dentsu Aegis Network.

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Jovens de todo o mundo que fazem parte da Geração Z, ou seja, entre 15 e 24 anos, aparentemente, estariam gostando cada vez menos das redes sociais e prestando cada vez mais atenção à proteção de seu perfil digital e a sua privacidade.

No relatório, este novo aspecto da vida digital dos jovens aparece como uma clara indicação de uma verdadeira fuga da web. Atualmente os jovens estariam mais atentos e cuidadosos com seus dados pessoais que são colocados na rede.

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A pesquisa realizada em todo o mundo com 32.000 pessoas, monitorou o uso da Internet nos doze meses de maio de 2019 a maio de 2020 e estudou algumas dinâmicas que moldam como os consumidores enxergam o uso de seus dados pessoais pelas companhias de tecnologia.

Se por um lado a Geração Z estaria fugindo da web, por outro, menos de uma em cada dez pessoas com mais de 45 anos de idade desativou seus perfis em redes sociais no período estudado.

“Isso pode ser um sinal do que está por vir – um movimento crescente de consumidores como ativistas de dados, utilizando seus conhecimentos tecnológicos para gerenciar seus perfis online de acordo com os seus próprios termos”, aponta o relatório.

A preocupação está crescendo sobre como as empresas podem abusar das informações deixadas na web.

De acordo com a pesquisa, o mau uso dos dados pessoais dos usuários é o maior fator de desconfiança no setor da tecnologia, seguido pela automação, pela  não geração trabalhos suficientes e pela busca da inovação por si só.

Cerca de 6 em cada 10 GenZers destacaram o uso indevido de seus dados como principal causa de desconfiança no setor. Em relação a pessoas com 55 a 65 anos de idade, essa proporção passa para 7 em cada 10.

Jovens desativam seus perfis nas redes sociais

O estudante de Economia, Caio Alexandre Grigoli, de 20 anos  conta que cancelou seu perfil em redes sociais pois sentia que estava sendo “moldado”.

Ele conta que o Facebook foi a primeira rede social que deixou de lado. “Não me recordo a data exatamente, mas foi logo no fim de 2017 e o Instagram no início do ano de 2019″.

Quando questionado sobre os motivos que o levaram a sair da web, Grigoli conta que um deles era a falta de atenção na “vida real”. Sobre o Instagram ele salientou que “sempre fazemos um cálculo antes de postar algo, do tipo se ficará bom ou não tão bom. Não achava feliz esse tipo de questionamento, uma espécie de trabalho não remunerado”.

No entanto ele manteve sua conta no Linkedin ativa, bem como o WhatsApp. “Mantive ele [WhatsApp] para poder continuar em contato e conversar com as pessoas que gosto, já que após estar fora das redes poderia ser mais difícil, pois tudo atualmente se da por meio delas, desde convites até um papo rotineiro”.

Controlando os dados

A pesquisa mostrou que 43% dos jovens da Geração Z tomaram medidas para reduzir a quantidade de dados compartilhados online. Além disso, para manter o anonimato, eles limpam o histórico de pesquisa e executa a navegação anônima com o Chrome. Abandonando muitos serviços de localização. Esta última decisão por um lado limita a utilização de algumas aplicações, por outro evita hábitos de rastreio e utilização da Internet.

Segundo o relatório, um estudo feito nos Estados Unidos mostrou que a cada grupo de 10 pessoas, 8 acreditavam ter pouco ou até mesmo nenhum controle sobre seus  dados que as empresas coletavam. Além disso, 60% das pessoas nem entendiam o que era feito com esses dados coletados.

Cerca de 45% das pessoas acham aceitável que as companhias usem seu endereço de e-mail para melhorara o serviço que oferecem, seguido por nome e idade (43%), escolaridade (32%) e local (30%) vem. No entanto, apenas 9% das pessoas consideram aceitável compartilhar sua filiação política e 10% sua preferência sexual para esse fim.

Quando questionado sobre sua opinião em relação a empresas de tecnologia usarem seus dados para personalizar experiências nas redes sociais, o estudante de Economia ressalta: “interessante somente até a página dois”.

De acordo com ele “a única experiência que é personalizada é a do consumo, as demais personalizações são pelo algoritmo que nos atualizam sempre com mais do mesmo da bolha que pertencemos, porém quando esses dados são capturados por interesses maiores, a sociedade como um todo pode ser facilmente manipulada sendo sempre atualizada somente com as mensagens do algoritmo, podendo ser notícias falsas, influências de comportamento e outras coisas”.

Ele ainda considera que “pessoas anônimas tentam emular constantemente o comportamento de influencers, já famosos na rede e que são minoria, e por serem muitos populares essa personalidade se dilui sobre o resto e causa uma homogeneização das identidades“.

Confiando nas Big Techs

Grigoli apontou que “confia em partes” nas Big Techs em relação aos seus dados pessoais. Segundo ele, “no meu caso não há interesse de ninguém me espionar. Pode parecer que eu esteja pensando muito longe, mas já vimos isso acontecer com algumas personalidades, questões políticas etc. Então, ter um pouco mais de cautela com as Big Techs nunca é demais”.

Já a recepcionista bilíngue, Gabrielle Abreu, de 20 anos, que também desativou seu perfil no Facebook, há cerca de 3 anos, conta que confia nas Big Techs em relação a suas informações pessoais, mas “depende dos dados”. Ela considera desconfortável passar dados “além dos principais”, como por exemplo documentos.

As preocupações dos consumidores, não são em vão. Atualmente muitas companhias ficaram no radar dos usuários por uso indevido dos dados.

Segundo o estudo “oito em cada dez pessoas em todo o mundo dizem que provavelmente parariam de fazer negócios com uma empresa que perdesse ou utilizasse os seus dados de forma irresponsável Embora esta intenção nem sempre se traduza em uma ação em massa na realidade, todas as marcas devem estar atentas ao sempre presente risco de uma violação de dados”.

Deveríamos ser remunerados?

Quase 50% das pessoas entrevistadas para o levantamento tem expectativas de que no futuro possam receber algum benefício financeiro em troca do uso de seus dados pessoais por parte de empresas.

65% das pessoas na China acreditam que num futuro próximo, entre 2 ou 3 anos, receberão benefícios financeiros em troca do uso de dados por empresas. No Brasil, essa porcentagem fica e, 48%, nos EUA em 41% e no Japão em 26%.

Em contrapartida, o relatório aponta que “essa expectativa está em contraste com o que ocorre hoje: apenas uma em cada dez pessoas já vendeu os seus dados pessoais nos últimos 12 meses, ainda que na Áustria um quarto das pessoas afirme ter feito isso”.

Abreu, no entanto, pensa diferente. De acordo com a jovem, as Big Techs que estariam “prestando um serviço gratuito” para os usuários.

Já Grigoli acredita que se as empresas querem usar dados dos usuários, “que nos remunerem por eles”. No entanto, ele ressalta que “a relação de poder ainda é desproporcional entre um mero usuário e uma empresa gigante de tecnologia. Não é porque eles podem comprar, que irão ter direito de fazer o que quiserem”.

Recentemente a Netflix lançou um filme  chamado “O Dilema das Redes”, sinalizando que os usuários das redes sociais seriam, na verdade, os produtos e não clientes, uma vez que os dados pessoais dos usuários seriam um bem  valioso nesse modelo de negócios das atuais empresas de tecnologia.

Isso, porquê as gigantes da tecnologia, como por exemplo o Facebook e o Google tem boa parte do seu lucro através de anúncios direcionados. Se por um lado anúncios direcionados podem parecer bom, uma vez que você verá mais o que for do seu interesse do que o que não for, por outro lado, o filme aponta que esse movimento pode criar uma bolha ao redor do usuário.

Porém, apesar desses temores, a confiança na tecnologia continua sendo uma ferramenta para ajudar a resolver os grandes desafios da sociedade mas as empresas pedem maior transparência digital.

Metade dos menores de 24 anos também acredita que a Inteligência Artificial (I.A.) e a robótica criarão oportunidades de emprego significativas nos próximos cinco anos. Mas eles consideram necessário que as empresas de TI sigam regras “roboéticas” precisas ao criar sistemas inteligentes.

Mas e o Futuro das redes sociais?

Para o futuro dessas dinâmicas entre as Big Techs e os usuários das redes sociais ainda há incertezas, principalmente frente à pandemia do novo coronavírus. Nesse sentido, o relatório pensou em quatro cenários para o futuro,  “para as marcas explorarem os riscos e oportunidades dos dados pessoais ao longo dos próximos cinco anos”.

No primeiro Cenário, as empresas de tecnologia se unificam em três, mas ainda há uma baixa confiança por parte dos consumidores em compartilhar seus dados pessoais. “Neste cenário, as marcas precisam pensar em como explorar alianças e oportunidades de parceria, incluindo com marcas de comunicação e publicidade, para aproveitar seus insights sobre consumidores e conhecimento de dados, além de modelos de negócios aprimorados que sejam direto ao consumidor”, descreve o relatório.

No segundo futuro criado no relatório, apesar da confiança dos consumidores ainda ser baixa a sua gama de escolhas foi ampliada, uma vez que o monopólio das empresas de tecnologia não existe mais e assim foram criados “paraísos de dados”. “Neste futuro, estratégias de sucesso incluiriam otimizar e investir em programas de fidelidade para construir relações melhores com os clientes e integrar funcionalidades de privacidade em novos produtos”, explica  o documento.

No terceiro cenário há confiança por parte do consumidor em relação a compartilhar seus dados pelos serviços que eles recebem. “Para as marcas, as estratégias futuras devem incluir parcerias amplas em todo o ecossistema de tecnologia, conectando os dados do consumidor da marca em múltiplos ecossistemas e aproveitando os pontos fortes de cada um”.

Já no último futuro imaginado, as companhias de tecnologia não dominam mais o mercado, enquanto os  consumidores “estão felizes compartilhando os seus dados para se beneficiar de uma ampla gama de ofertas disponíveis, incluindo o compartilhamento de dados em troca de benefícios financeiros”. “Neste futuro, as marcas precisariam considerar como elas entregariam uma troca de dados mais valiosa e, ao mesmo tempo, deveriam buscar oportunidades para agregar as capacidades para aumentar a escala dos dados”, explica o documento.

Apesar dos temores e teorias sobre as redes sociais, algo que não se pode negar é que elas foram um grande avanço no processo de globalização, uma vez que podem conectar pessoas em lados opostos do mundo em questão de segundos. No entanto, a preocupação com dados pessoais e privacidade devem ser levadas em consideração pelos  usuários.

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Laura Moutinho

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