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Pandemia deve levar investimentos para ESGs, dizem especialistas

Durante o segundo trimestre de 2020, muitas empresas e instituições financeiras ao redor do mundo anunciaram medidas e programas focados no investimento sustentável. Trata-se dos investimentos ESG (padrões ambientais, sociais e de governança, em sua sigla em inglês), que há anos causam debates entre investidores sobre o retorno que podem trazer.

Para especialistas do mercado, conforme as economias reabrem ao redor do mundo, é essencial que as empresas e os investidores não adotem o padrão pré-pandemia. O Covid-19, na visão deles, apresenta uma obrigação única de repensar as relações entre empresas, mercados, governo e sociedade. Isso mudaria os mercados e as economias para uma forma mais sustentável de capitalismo.

De acordo com o jornal norte-americano “The Wall Street Journal”, diversas pesquisas mostraram de forma conclusiva que as empresas que integram adequadamente os fatores ESG em seus planos geralmente são bem-sucedidas e até mais lucrativas. À medida que esse paradigma se torna amplamente reconhecido, os investidores que não levarem esses valores em consideração podem correr o risco de não oferecer os melhores produtos aos seus clientes.

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Além do retorno financeiro, os padrões ESG consideram indicadores como retorno ambiental, social e governança. Desde que a pandemia começou, esta categoria de investimentos está em alta no mercado, presente em debates de gestores e, recentemente, integrando as carteiras de fundos ou instituições financeiras. Além disso, investidores ao redor do mundo descobriram recentemente, que o retorno oferecido por esse tipo de investimentos é atrativo, aumentando sua demanda no mercado.

Os investimentos depois da pandemia do Coronavirus

A pior crise desde a Segunda Guerra Mundial está levando alguns gestores de fundos a repensar suas estratégias em um mundo onde US$ 13,7 trilhões (cerca de R$ 73,76 trilhões) são investidos em taxas de juros nulas ou negativas, e uma recuperação econômica em forma de “V” é improvável. A busca por oportunidades no ESG, está se tornando mais crucial do que nunca, à medida que os investidores navegam na volatilidade do mercado.

“Esta é uma crise diferente de tudo o que vimos, e não podemos mais voltar aos nossos livros antigos que dizem ‘buy the dip’” (ditado que se traduz como ‘compre na baixa’), disse Thu Ha Chow, gerente da Loomis Sayles Investment, à “Bloomberg”. “Os elementos sociais e de governança serão mais importantes, mas podem ser mais difíceis de serem encontrados nos mercados emergentes“.

Veja também: Saída de investimentos estrangeiros atinge países emergentes, aponta FMI

Embora as ações e títulos voltados para o ESG registrem retornos atraentes durante a pandemia, eles são uma minoria nos mercados emergentes de US$ 28 trilhões. Apenas US$ 11 bilhões dos US$ 84 bilhões investidos em bonds cujos rendimentos são aplicados a projetos destinados a ajudar a sociedade,  vieram de países em desenvolvimento, este ano.

“Podemos ver claramente que a maneira como fazemos negócios está mudando e se tornando mais digital”, disse Adrian Zuercher, chefe de alocação global de ativos da UBS Wealth Management em Hong Kong, ao jornal estadunidense. “Os mercados emergentes, que se basearam mais em recursos naturais e a produção industrial, enfrentarão um futuro mais incerto.”

Investimentos ESG no Brasil

O tema tomou maiores proporções no Brasil após sete grandes empresas de investimento europeias afirmarem à agência “Reuters” que deixarão de investir no Brasil, caso o País não apresente uma solução para o desmatamento na Amazônia.

O corte de investimentos, segundo o jornal, incluiria produtores de carne, operadoras de grãos e até títulos do governo brasileiro. Com essa atitude, os grupos mostram que o setor privado está tomando atitudes globais para proteger a Amazônia.

Ao mesmo tempo, a XP Inc. (Nasdaq: XP) anunciou no mês passado a criação de um conselho e iniciativas ESG para fornecer produtos, serviços, conteúdo e recomendações focados nos parâmetros ambientais, sociais e governamentais. A empresa afirmou que busca “liderar iniciativas de ESG no mercado financeiro brasileiro, democratizando o acesso a conteúdos e produtos aos clientes”.

Abaixo estão alguns destaques das iniciativas ESG da empresa:

  • O compromisso da XP com a igualdade de gênero, com o objetivo de aumentar o número de funcionárias em 10% em um ano;
  • Dedicar R$ 100 milhões como capital inicial para o desenvolvimento de um ecossistema ESG de fundos de investimento, que focam em estratégias exclusivas dos principais gestores brasileiros que investem em empresas com altos padrões ESG;
  • Construir uma nova sede com padrões “eco-friendly” e energia 100% renovável, que será alinhada com a intenção de adotar opções de trabalho remoto permanentes;
  • Lançar o movimento Juntos Transformamos, que gerou R$ 32 milhões em doações no total, sendo R$ 5 milhões dedicados a iniciativas de saúde e o restante destinado ao fornecimento de alimentos para os mais necessitados.

Veja também: XP e JHSF anunciam lançamento de novo empreendimento “Villa XP”

Apesar do otimismo e avanço com esse tipo de ações, especialistas do mercado financeiro brasileiro acreditam que a emissão de bônus ESG tem potencial para ser “muito mais amplo” caso os segmentos de crédito e imobiliário sejam observados com mais atenção pelo mercado.

Daniel Guimarães

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