Entenda três causas que motivaram a alta do dólar nas últimas semanas

Nesta semana, a cotação do dólar ante o real quebrou três recordes consecutivos. Além disso, somente em novembro, a moeda norte-americana acumulou alta de 5,73%.

De acordo com os especialistas entrevistados para o Boletim Focus da última segunda-feira (25), o dólar deverá continuar acima de R$ 4,00 e  encerrar o ano cotado em R$ 4,10.

Os fatores externos, como a guerra comercial entre Estados Unidos e China e as tensões na América Latina, contribuíram para agitação do mercado. No entanto, a variação da moeda norte-americana envolve uma série de fatores mais complexos.

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Por conta disso, o SUNO Notícias conversou com a professora de finanças corporativas do Insper, Berenice Damke, e com o gerente de tesouraria do Travelex Bank, Felipe Pellegrini, para entender algumas das causas para a alta da moeda norte-americana.

Fluxo cambial

Para começar a entender os fatores que levam a variação do dólar, é necessário contextualizar o mercado de câmbio.

A cotação da moeda estrangeira depende diretamente da oferta e da demanda. Ou seja, quando há pouca moeda norte-americana no mercado ou quando há procura é muito alta, o preço deve aumentar. No caso de maior oferta e menor busca, a tendência é que o preço diminua.

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O fluxo cambial, que consiste nas saídas e entradas de moeda estrangeira no País, foi mencionado por Damke como um dos fatores que explica a alta.

Segundo o Banco Central (BC), até o dia 22 de novembro, o Brasil registrou fluxo cambial negativo de US$ 1,159 bilhões. O montante indica que mais moedas estrangeiras saíram do País do que entraram no período, o que influencia a variação positiva do dólar.

Redução da taxa de juros

De acordo com Pellegrini, nesta semana, o recorde histórico de R$ 4,27 atingido durante o intraday refletiu a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a valorização da moeda norte-americana ante o real.

“O dólar está alto. Qual o problema? Zero. Nem inflação o dólar alto está causando. Vamos exportar um pouco mais e importar um pouco menos”, disse o ministro na última terça-feira (26).

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As taxas de juros baixas, mencionadas por Guedes, refletem diretamente na quantidade de moeda estrangeira que entra no País. Isso ocorre pois com juros menores, os aportes em títulos públicos no Brasil se tornam menos atrativos para os investidores estrangeiros, que buscarão países com rendimentos maiores.

Atualmente, a taxa de juros no Brasil é de 5% ao ano, mínima histórica. De acordo com o Boletim Focus, divulgado na última segunda-feira (25), os juros devem passar por um novo corte ainda neste ano, para 4,5% a.a.

“Nós estamos mantendo uma taxa de juros extremamente baixa, isso faz com que estrangeiros achem menos atrativo investir, por exemplo, em títulos atrelados a taxa de juros brasileira, que está com pouco prêmio”, salientou Damke.

Leilão do pré-sal

O leilão de campos de petróleo do pré-sal da Bacia de Santos, realizado no dia 6 de novembro, foi um dos fatores que levou ao clima pessimista do mercado nas últimas semanas. No dia do leilão, a moeda norte-americana registrou alta de 2,22%.

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O governo federal esperava arrecadar R$ 106,5 bilhões por quatro áreas de exploração, no entanto, o valor levantado foi de R$ 69,9 bilhões por dois dos campos. As outras duas áreas não receberam ofertas.

O leilão, que foi protagonizado pela Petrobras, mostrou o pouco interesse das empresas estrangeiras em investir no País.

“O leilão do pré-sal não veio com o resultado esperado e, desde então, começamos a ver uma dispara de altas no dólar”, afirmou Pellegrini.

Até quando o dólar ficará acima de R$ 4?

Tanto para Damke quanto para Pellegrini, os sinais de recuperação da economia, mesmo que lentos, poderão fazer com que a moeda norte-americana saia da casa dos R$ 4,00.

“Os juros baixos, a expectativa positiva do mercado e os sinais de retomada da economia são fatores que ajudariam na volta do fluxo cambial e talvez para trazer o dólar para abaixo de R$ 4,00″, disse Damke.

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No entanto, Pellegrini salientou que o estresse no mercado interno a curto prazo, marcado tanto pelo leilão do pré-sal quanto por notícias envolvendo um acordo comercial entre EUA e China, podem fazer com que a queda demore um pouco.

Por conta desses fatores, segundo o gerente do Travelex Bank, a moeda norte-americana deverá permanecer na casa dos R$ 4,10 até o final deste ano. “O dólar abaixo de R$ 4,00 vai demorar um pouco mais para a gente ver”, disse Pellegrini.

Giovanna Oliveira

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