CVM acusa diretor da Embraer de ter omitido informações ao mercado

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) acusou o diretor financeiro da Embraer (EMBR3), Nelson Salgado, de ter omitido informações em comunicado direcionado ao mercado.

O informe ao qual a CVM se refere tratava da venda da divisão comercial da Embraer à Boeing. Ele foi divulgado pela fabricante brasileira em 5 de julho de 2018 e continha informações sobre a formação de uma joint venture, na qual a Embraer ficaria com 20% de participação e a Boeing, 80%.

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Para a autarquia de regulação de capitais, a empresa não deixou clara que sua influência ficaria limitada na operação da NewCo, a empresa resultante da fusão, que cuidaria dos negócios de aviação comercial. A CVM diz que o comunicado divulgado ao mercado faz “menção genérica a direitos de governança e veto detidos pela Embraer“.

Segundo a Folha de S.Paulo, a Embraer foi questionada sobre as acusações a Nelson Salgado, seu executivo. Ela disse que “vem mantendo o mercado consistentemente informado das tratativas e evoluções relativas à transação com a Boeing“. Afirmou também cumprir “todas as normas referentes à divulgação de informações”.

A operação foi anunciada em 2018 e teve o aval do presidente Jair Bolsonaro neste ano.

Entenda o caso

A Embraer aprovou com a Boeing os termos do acordo de fusão em julho de 2018. Desta forma, seria criada uma joint venture, ou seja, uma nova empresa de aviação comercial no Brasil.

O novo negócio foi chamado de JV Aviação Comercial ou Nova Sociedade. Entretanto, a empresa avaliada em US$ 5,26 bilhões não terá esse nome após a conclusão de operação.

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Inicialmente, quando as duas empresas assinaram um memorando, o valor era estimado em US$ 4,75 bilhões. Nos termos do acordo, a fabricante norte-americana de aeronaves ficará com 80% do negócio, enquanto a companhia brasileira, os 20% restantes.

A Boeing pagará US$ 4,2 bilhões (ou R$ 16,4 bilhões), cerca de 10% a mais do que era previsto. No entanto, este valor supera em mais de 7% o valor de mercado da fabricante brasileira. O maior valor de mercado já registrado pela Embraer foi em novembro de 2015, quando a companhia atingiu R$ 22,39 bilhões.

Além disso, os 20% da fabricante brasileira poderão ser vendidos para a Boeing a qualquer momento, por meio de uma opção de venda.

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Nova empresa

A Boeing fará o controle operacional e de gestão da nova empresa. Os executivos da joint venture responderão diretamente ao presidente e CEO da Boeing, Dennis Muilenburg. Todavia, a joint venture, se aprovada, será liderada por uma equipe de executivos no Brasil.

A Embraer manterá o poder de decisão para temas específicos que foram definidos em conjunto, como a transferência das operações do Brasil.

Em 2017, a área de aviação comercial da fabricante brasileira representava 57,6% da receita líquida da empresa. Essa área foi responsável por US$ 10,7 bilhões de um total de US$ 18,7 bilhões da receita.

No entanto, a Boeing apresenta uma receita anual cerca de 16 vezes mais alta que a da Embraer. Em 2017, a Embraer faturou US$ 5,8 bilhões, enquanto a empresa americana US$ 93,3 bilhões.

A norte-americana é a principal fabricante de aeronaves comerciais para voos de longo alcance. Por outro lado, a brasileira lidera o mercado de jatos regionais, com aeronaves para vôos a distâncias menores.

A Embraer (EMBR3.SA) espera um resultado de aproximadamente US$ 3 bilhões na fusão com a Boeing (BOEI34.SA), descontados os custos de separação.

Guilherme Caetano

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