Balanços da semana

Entenda como a Minerva (BEEF3) conseguiu lucrar apesar da pandemia

A pandemia do novo coronavírus pegou as empresas de surpresa e causou forte impacto para setores como o de aviação e turismo. Por outro lado, para a Minerva Foods (BEEF3) e o setor de proteínas a história foi diferente.

Segundo a empresa, o cenário para exportação é bastante favorável, com oportunidades relevantes para crescimento no mercado internacional. “As exportadoras de proteína se favoreceram com a pandemia, enquanto as empresas com foco no mercado doméstico acabaram não indo muito bem”, afirmou o CFO da Minerva Foods, Edison Ticle.

Para o executivo, que trabalhou por mais de uma década no mercado financeiro, um dos fatores que levam a maior demanda é a retomada das atividades após redução dos casos do novo coronavírus.

A China, principal mercado da companhia, vem mostrando sinais de recuperação mais acelerados em relação à países da América do Sul, por exemplo. Ao mesmo tempo, a potência asiática sofre com impacto da peste suína africana, que reduziu em 50% o rebanho de suínos, para qual o principal substituto é a proteína bovina.

Suno One: o primeiro passo para alcançar a sua independência financeira. Acesse agora, é gratuito!

Além disso, segundo a empresa, a segurança alimentar será outra preocupação cada vez maior tanto no cenário atual como no pós-pandemia. Dessa forma, para a exportadora de proteína, o Brasil está bem posicionado com protocolos rígidos e presença de Serviço de Inspeção Federal (SIF), ligado ao Ministério da Agricultura, para ocupar novos mercados.

Com isso, confira a entrevista do SUNO Notícias com Edison Ticle, diretor financeiro executivo da Minerva Foods.

Como ficou o setor de exportação de proteínas com a pandemia?

As empresas que têm o escape da exportação, ou que estão expostas à exportação, acabaram se beneficiando com esse cenário. Isso acontece pois o dólar se desvalorizou bastante, o que levou ao aumento da receita operacional, da rentabilidade e da margem.

Aliado a isso, os mercados para quais exportamos são regiões que estão se recuperando mais rápido do que o próprio mercado interno brasileiro. O maior exemplo é a China, o principal comprador, que registrou o  pior momento da crise em fevereiro até o início de março e depois vem se recuperando não só em volume, mas em preços também.

Podemos citar a Europa que voltou a se recuperar antes da América do Sul, E, por fim, os Estados Unidos, que também tem apresentado uma retomada mais rápida em relação a esses países.

Quando entrei, havia um desafio de desalavancar a empresa e melhorar a estrutura de capital, o que temos feito desde então e culminou no bom desempenho das exportações, do operacional e do financeiro, o que vimos tentando fazer desde então.

Em relação a crise na Argentina, qual o impacto nos negócios da Minerva?

A Argentina, para nós, representa algo perto de 10% a 12% do faturamento, portanto é relevante.

Em razão da crise, o mercado argentino passou a buscar proteínas mais baratas. E, temos, no país, operação de processados com as marcas Swift e Cabaña Las Lilas, pelas quais fazemos hambúrgueres, patês, salsichas entre outros produtos. Nesse segmento vimos as vendas subirem.

E, por outro lado, a exportação também acabou sendo um grande negócio na Argentina. Temos, atualmente, cerca de 17% do marketshare na exportação, somos o principal exportador da Argentina.

Saiba mais: Tensão entre Argentina e credores cria impasse na renegociação da dívida

Dessa maneira, no país vizinho embora a crise seja ainda mais profunda em relação ao Brasil, a atitude operacional foi a mesma.

Qual a sua visão sobre a política de hedge?

Ao meu ver, tenho um visão um pouco mais pragmática de como funciona risco cambial, talvez pela minha trajetória. Nunca acreditei em hedge natural.

Se pegarmos o primeiro trimestre, principalmente no setor de proteínas, todos tiveram um resultado operacional muito forte, mas a única empresa que registrou lucro foi a Minerva. Isso ocorre pois protegemos a dívida, temos um política de hedge bem mais efetiva do que simplesmente confiar no hedge natural.

Não confio nesse tipo de instrumento, primeiramente, porque o existe um lag entre o operacional e o financeiro. Quando o câmbio sobe, na mesma hora marca-se a dívida mais caro, já na operação tem-se contratos e negociações acontecendo. Leva-se de dois a três trimestres para toda a desvalorização cambial se refletir em fluxo de caixa operacional na mesma proporção.

Em segundo lugar, quando se tem desvalorizações cambiais significativas, normalmente não é só em um país. Assim, o efeito para a empresa é o mesmo: o preço da mercadoria cai. Por essa razões, sempre tivemos um política de hedge ativa.

Que medidas a Minerva vem tomando para proteger e garantir a segurança de seus funcionários?

Desde o início de março, nós vimos testando a temperatura de todos os trabalhadores antes de entrarem nas unidades; mudamos o sistema de transporte e área comuns para possibilitar o espaçamento mínimo; modificamos também o layout das fábricas. As linhas da companhia tiveram de ficar com menos pessoas e mais longas. Isso resultou na diminuição da produtividade no setor.

Além disso, aumentamos a necessidade equipamentos de proteção individual (EPIs), exigindo o uso de máscaras maiores e mais rigidez na rotina de higienização. Ainda, compramos muitos testes, com o objetivo de testar todos os funcionários e conseguir identificar empregados infectados para realizar o isolamento sem prejuízo. Ao mesmo tempo, todo o pessoal de administrativo foi transferido para regime de home office, o que tem funcionado bem.

Enquanto, além de todas as medidas de contingência, contratamos uma consultoria do Hospital Israelita Albert Einstein para auxiliar a companhia nesse protocolos.

Como ficaria o setor de proteína e a Minerva no pós-pandemia?

Penso que haverá uma mudança cultural para os consumidores. O foodservice deve sofrer mais com a demora para as pessoas voltarem a frequentar restaurantes. Com isso, deve haver um fortalecimento do varejo, principalmente do pequeno e médio, e uma redução na demanda por foodservice.

Anunciamos há três semanas o primeiro fundo de alívio no Brasil, que estamos na fase de lançar. A ideia é que o fundo esteja pronto para começar a emprestar a partir de 15 de julho. Escolhemos entre 1.500 e 2.000 pequenos e médios clientes varejistas e iremos disponibilizar um limite de crédito. Dessa forma, o comerciante poderá pagar com 12 meses de carência em 12 parcelas fixas com juros próximos de captação da Minerva, comparável à taxa Selic mais um spread de 1,5.

Saiba mais: Acordo entre Minerva (BEEF3) e FrigoNorte será analisado no Paraguai

Vejo que também que as pessoas devem se digitalizar mais. As transações bancárias, financeiras, relacionamento e todos os stakeholders da cadeia ficarão mais digitais. Isso tudo afeta o setor pois muda o modo como nos relacionamos com clientes e dos parceiros. Algumas startups vem trabalhando conosco para melhorarmos os processos internos.

Outra tendência que vejo é a do e-commerce. As pessoas ficarão mais em casa e passarão a realizar mais comprar feitas de casa. Então vemos o segmento como um vencedor e vetor de crescimento daqui para frente. O modelo de comércio eletrônico da Minerva está em fase piloto na Argentina e deve ser lançado até o final do ano. Mas, devemos acelerar o processo exatamente em razão desse novo cenário.

Arthur Guimarães

Compartilhe sua opinião