BRF: confira 4 motivos que levaram a gigante alimentícia ao caos atual

O prejuízo de R$ 4,466 bilhões registrados pela BRF no último ano, 306% maior do que o aferido em 2017, teve pelo menos quatro grandes razões.

Além das perdas anuais, os resultados trimestrais da BRF também pioraram. O prejuízo no último trimestre do ano foi de R$ 2,125 bilhões – uma alta de 171% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando as perdas somaram R$ 784 milhões.

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Os motivos do caos foram reconhecidos pela companhia, dona das marcas Sadia e Perdigão, no relatório de divulgação dos resultados do quarto trimestre fiscal. Entre eles, estão:

  1. Operação Trapaça, da Polícia Federal
  2. Greve dos caminhoneiros
  3. Restrições impostas pela Rússia
  4. Guerra comercial e medidas protecionistas

Operação Trapaça

A Operação Trapaça, desdobramento da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, foi deflagrada no começo de 2018 e teve como alvo um esquema de fraudes na BRF. Pedro de Andrade Faria, então presidente da companhia, foi um dos presos na operação, além de outros 91 mandados decretados pela Justiça Federal.

A investida da PF visava apurar indícios de fraudes relacionadas à emissão de laudos por laboratórios credenciados junto à Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. As empresas investigadas burlavam a fiscalização preparando amostras, por meio dos laboratórios investigados, para camuflar a real condição sanitária de seus produtos.

Os desdobramentos da Trapaça fizeram com que 12 plantas da BRF fossem excluídas da lista de estabelecimentos aprovados para exportar para a União Europeia, considerado um mercado muito importante para a empresa.

Greve dos caminhoneiros

A greve dos caminhoneiros realizada no fim de maio de 2018 gerou efeitos negativos na economia, e a BRF pôde senti-los. O setor de transportes, diretamente afetado pela paralisação, teve queda de 1,4% no segundo trimestre. Foi a maior queda no setor desde o terceiro trimestre de 2016, no auge da crise.

O consumo das famílias ficou estagnado em 0,1% após avançar 0,4% no primeiro trimestre. A aceleração da inflação no período, somada à greve, ajudou a derrubar o poder de compra do brasileiro.

Dificuldades para escoar mercadorias para os portos, em razão dos bloqueios nas estradas e nos terminais portuários pelos caminhoneiros, fizeram as exportações despencarem 5,5% no trimestre. A queda na confiança do consumidor afetou o fôlego dos investimentos, que caíram 1,8%. A greve exigiu da BRF esforço extra para continuar a alimentar o plantel no campo e transferi-lo para o abate, prejudicando as operações.

O bloqueio russo

No fim de 2017, a Rússia anunciou que imporia restrições temporárias às carnes bovina e suína vindas do Brasil. A justificativa foi a detecção de substâncias como ractopamina e estimulantes de crescimento de massa muscular nos animais.

“Infelizmente, o Rosselkhoznadzor (departamento sanitário da Rússia) é forçado a afirmar que, de acordo com os estudos laboratoriais, os estimulantes de crescimento banidos foram novamente detectados nos produtos de criação de gado que chegam à Rússia do Brasil em 2017″, informou o órgão russo.

A suspensão de importação de suínos pela Rússia perdurou por todo o ano de 2018, afetando as exportações da BRF para o país.

Guerra comercial

A BRF também sofreu a imposição de tarifas antidumping pela China, reflexo do recrudescimento das tensões geradas pela guerra comercial entre chineses e americanos. As medidas protecionistas fecharam outros importantes mercados importadores, levando a um excesso de carne de frango e suína no mercado doméstico.

Com a economia ainda fraca em termos de emprego e renda, a BRF não conseguiu ajustar os preços para o consumidor brasileiro no mesmo ritmo do aumento de custos, apertando as margens dos produtores de carne.

Guilherme Caetano

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