Brexit leva Theresa May a enfrentar voto de desconfiança no Parlamento

A primeira-ministra britânica, Theresa May, enfrentará nesta quarta-feira (12) um voto de desconfiança no Parlamento.

Além de chefe do governo do Reino Unido, Theresa May é a líder do partido Conservador. Entretanto, sua liderança está em crise por causa do acordo sobre a saída do país da União Europeia (UE). O chamado Brexit.

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Seus correligionários conseguiram o apoio necessário para iniciar esse processo que pode retirá-la do comando da legenda e, consequentemente, do poder.

No Reino Unido, tradicionalmente, líder do partido que ganha as eleições é também líder do governo.

O grupo de deputados contrários a May se reuniu no chamado “Comitê 1922”. Seu líder, Graham Brady, recebeu 48 cartas necessárias dos deputados do partido para convocar a voto de desconfiança.

Theresa May pode perder a liderança do partido se 158 dos 315 parlamentares conservadores votarem contra ela. Se ela perder, deverá renunciar ao cargo e haverá uma nova votação dentro do partido para escolher um novo líder.

Entretanto, May permanecerá premiê do Reino Unido até que seu o sucessor seja indicado. Por outro lado, se ganhar, a primeira-ministra não poderá ser desafiada novamente no Parlamento por um ano.

A premiê defendeu sua liderança, ressaltando que que uma mudança no comando do partido nesse momento poderia atrasar ou até parar o Brexit.

“Um novo líder não teria tempo para renegociar um acordo de retirada. Então um de seus primeiros atos teria que ser estender ou rescindir o Artigo 50, atrasando ou até mesmo parando Brexit enquanto as pessoas querem que continuemos esse processo”, declarou May.

O acionamento do Artigo 50 do Tratado de Lisboa marcou o início do processo formal de saída do Reino Unido da União Europeia. Esse processo iniciou-se em março de 2017, após a notificação formal de Londres para o Conselho Europeu. O Brexit foi decidido pelo povo do britânico em um referendo em junho de 2016.

May fez um apelo para que seus correligionários permaneçam unidos “para servir nosso país”. “Estou pronta para terminar esse trabalho”, afirmou a primeira-ministra, fazendo referência ao processo do Brexit.

A votação está prevista para acontecer entre 18h e 20h (16 e 18h no horário de Brasília). O presidente do Comitê 1922 afirmou que o resultado será anunciado o mais rápido possível. May cancelou uma viagem que faria para a Irlanda para tentar negociar uma base de apoio com os deputados da Irlanda do Norte.

Saída turbulenta da União Europeia

A votação dificilmente poderia ocorrer em um momento pior para May. A primeira-ministra britânica está em forte dificuldade para aprovar o acordo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia no parlamento.

O documento de saída, que já recebeu o aval do Conselho Europeu, despertou a oposição entre os próprios conservadores. Após tomar conhecimento do teor do texto, cinco de seus ministros pediram demissão.

Parte dos parlamentares acredita que o acordo faz demasiadas concessões à União Europeia e não resolverá o problema das fronteiras do Reino Unido. A oposição do Partido Trabalhista, por sua vez, votará contra na tentativa de derrubar o governo. O objetivo do líder trabalhista, Jeremy Corbyn, é pedir novas eleições. Além disso, há ainda uma parcela de deputados que se opõem à saída do bloco e defendem a realização de um novo referendo.

Sabendo dessas dificuldades, May tentou uma manobra para evitar uma derrota no parlamento. A premiê adiou a votação que estava prevista para acontecer na última terça-feira (12). Não há data para que o voto ocorra.

Porém, o governo britânico continua sob forte pressão pelo tempo. Já que no dia 29 de março de 2019 o Reino Unido deixará de ser um país-membro da UE.

Theresa May não quer adiar a saída do Reino Unido e rejeita a possibilidade de realizar um segundo referendo. A ideia que ganhou força nessa semana depois que o Tribunal de Justiça da União Europeia afirmou que o Reino Unido pode revogar o unilateralmente o Brexit, suspendendo a aplicação do Artigo 50. 

Carlo Cauti

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