Entenda a ameaça de regulação das Big Techs e o que podemos esperar para o futuro

Grunge, Guerra do Golfo, confisco de poupanças, Spice Girls, Plano Real. A década de 1990 era muito diferente dos dias atuais. A União Soviética havia acabado de cair; a globalização avançava com a formação de blocos econômicos e tratados comerciais; e a popularização do computador pessoal estava apenas no início. Os anos de 1990 ainda foram marcados pela euforia com o advento da Internet. Não havia Big Techs e os mais renomados teóricos professavam a chegada de uma nova Era.

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Há cerca de 30 anos, a Internet deixou de ser um aparado exclusivo de militares e governos e passou a se commoditizar. A expectativa com a Nova Economia era tanta que logo começaram a surgir um punhado de novas empresas ansiosas para agarra um pedaço desse mercado. O cenário levou a bolsa automática dos Estados Unidos Nasdaq a subir cinco vezes entre os anos de 1995 e 2000. Estava desenhada a bolha ponto com, que desaguou em uma quebra generalizada das companhias de internet.

Enquanto isso, pensadores, filósofos, engenheiros comunicavam a democratização do discurso e da técnica. Com a chegada das novas tecnologias, o público teria acesso a conhecimento, cultura e poder de voz gratuitamente. As pessoas poderiam desenvolver aplicativos e plataformas que permitissem a integração. A Aldeia Global de McLuhan estava finalmente se concretizando.

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Mas não foi isso o que aconteceu. Com a conjuntura socioeconômica e o quebra-quebra do início do século XXI, o setor de tecnologia sofreu uma consolidação. Para se ter uma ideia, no início de 2001, depois do estouro da bolha de internet, as ações da Microsoft (NASDAQ: MSFT) valiam menos de US$ 27,00. Hoje, os papeis da gigante fundada por Bill Gates operam na casa dos US$ 214. A Amazon (NASDAQ: AMZN) saiu de menos de US$ 6,00, em 2001, para mais de US$ 3.100, atualmente.

E as empresas vitoriosas, ao contrário das promessas de democratização digital, eram focadas no lucro. Desse modo, segundo o livro “A Sociedade de Plataforma” (2018), dos pesquisadores José van Dijck, Thomas Poell e Martijn De Waal, o ecossistema de plataforma foi construído em paradoxos: “parece igualitário, mas é hierárquico; é quase inteiramente corporativo, mas parece servir ao valor público; parece neutro e agnóstico, mas sua arquitetura carrega um conjunto particular de valores ideológicos; seus efeitos parecem locais, enquanto seu escopo e impacto são globais; parece substituir o ‘grande governo’ ‘de cima para baixo’ ‘por empoderamento do consumidor’ ‘de baixo para cima’, mas está fazendo isso por meio de uma estrutura altamente centralizada que permanece opaca para seus usuários”.

Tudo o que é sólido se desmancha no ar

Em 2020, quase 20 anos depois da bolha de internet, o cenário se mostra bem diferente do começo do século. As Big Techs, grupo que abarca as cinco maiores corporações de tecnologia do planeta, a saber, Apple (NASDAQ: AAPL); Amazon; Alphabet, a dona do Google (NASDAQ: GOOGL); Facebook (NASDAQ: FB) e Microsoft; se posicionou como o maior poder econômico já visto na história.

Foi neste ano que a empresa criada por Steve Jobs e Steve Wozniak em uma garagem na Califórnia ultrapassou a marca de US$ 2 trilhões (cerca de R$ 11 trilhões) em valor de mercado e se confirmou pelo segundo ano seguido a marca mais valiosa do mundo. E, no ranking da Forbes, a desenvolvedora do iPhone é seguida por sabe quem? Anota aí: Google, Microsoft, Amazon e Facebook.

O setor de tecnologia sofreu uma grande concentração de poder, tornando o Vale do Silício, onde todas as empresas citadas acima estão localizadas, em um verdadeiro polo de inovação e cérebros de todos os cantos do planeta. Mas, com o desempenho estrondoso nos últimos anos, teve início um processo de desconfiança em relação às Big Techs. Afinal, essas companhias teriam já passado do limite de grandeza e estariam caminhando para um controle do mercado?

Foi com isso em mente que o Congresso dos Estados Unidos intimou, em agosto, Tim Cook, Sundar Pichai, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg, os CEOs da Apple, Alphabet, Amazon e Facebook, respectivamente, para depor perante ao Parlamento norte-americano, no qual os deputados levantaram suas preocupações quanto o domínio das companhias sobre o mercado.

O mesmo movimento vem tomando forma na União Europeia (UE), que segundo documentos obtidos pelo jornal Financial Times, está se preparando para forçar as Big Techs a compartilhar seus enormes dados de clientes. Empresas como Amazon e Google “não devem usar dados coletados na plataforma. . . para [suas] próprias atividades comerciais. . . a menos que elas [o tornem] acessíveis aos usuários de negócios ativos nas mesmas atividades comerciais ”, destaca o esboço do regulamento.

Mas tendo em vista o poder expressivo que as grandes corporações de tecnologia norte-americanas conquistaram e os cada vez mais recentes questionamentos por parte dos governos dos Estados Unidos e da Europa, o que é possível esperar para o futuro dessas companhias?

O futuro das Big Techs não é mais o que era antigamente

Se no passado as empresas de internet se proliferaram e cresceram sem qualquer tipo de controle, a tendência atualmente é outra. Na visão de José Niemeyer, doutor em Ciência Política e coordenador da graduação de Relações Internacionais do Ibmec-RJ, “vai ter e deve ter regulação”.

Para o professor, as Big Techs constituem o “núcleo da revolução da tecnologia” e “estão cada vez mais buscando consolidar o controle e a divulgação de informações”.

Mas antes de tudo é preciso analisar as bases socioeconômicos, ressalta Niemeyer. Essas grandes companhias possuem um papel cada vez mais relevante em países em desenvolvimento, como é o caso até mesmo do Brasil, onde não há estrutura para a construção de um Vale do Silício.

É o que também pondera o analista CNPI da Suno Research Alberto Amparo. Segundo o especialista, as Big Techs promovem a infraestrutura que permite marcas menores fazerem frente a gigante já estabelecidos por meio de anúncios, branding e outras estratégias.

Além disso, ambos concordam que a eleição de Joe Biden para a Casa Branca não representa um grande perigo para as gigantes da internet. Para Amparo, o democrata não anota uma postura tão dura e crítica em relação a essas empresas, ao contrário de companhias responsáveis por emissão de carbono, como as de fracking.

No que concerne à UE, o professor de Relações Internacionais salientou que o bloco “tem mais uma visão de controle” associado ao viés social-democrata, amparado principalmente pela França e Alemanha. É sempre necessário se atentar a questões de “aproximação”, com os Estados Unidos por exemplo, e de “competição”. Os países europeus não destruiriam pontes com os vizinhos do outro lado do Atlântico a qualquer custo ao tempo em que não deixariam de pensar nas condições competitivas dentro de seu próprio mercado regional, ressalta Niemeyer.

Não obstante, Amparo afirma que o investidor não deve investir em uma Big Tech “tentando comprar um cenário”. O ideal, defende o analista, não é desenvolver uma opinião sobre o que acha que vai acontecer no futuro e apostar tudo nisso. O investidor deve “entender que isso é uma incerteza e tentar fazer um investimento que, em qualquer cenário que acontecesse, se daria bem”.

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Arthur Guimarães

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