BCE rechaça críticas sobre juro negativo e defende medida

O Banco Central Europeu (BCE) defendeu, na última quarta-feira (13), por meio de um estudo, a implementação de taxa de juros negativas, colocadas em prática em 2014. Para a autoridade monetária europeia, a medida teve um efeito “amplamento neutro” para a lucratividade dos bancos, o contrário do que dizem os financistas das instituições financeiras.

De acordo com o BCE, “seis anos de taxas de juros negativas fizeram tanto para estimular a lucratividade nos bancos da zona do euro, quanto para sufocá-la”. Os grandes bancos alegam que suas lucratividades foram afetadas pela medida que, à princípio, foi implementada para evitar uma deflação na Europa.

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Executivos das maiores instituições bancárias dizem que o setor pagou 25 bilhões de euros (cerca de R$ 160,10 bilhões) devido às taxas negativas para o BCE desde sua criação, o que acabou por piorar seus lucros já defasados à época.

A medida, contrária à lógica financista até então, fez com que os bancos passassem a ter que pagar para manter seus recursos no BCE, em vez de usufruir dos juros sobre o principal. O intuito é fazer com que os bancos distribuam mais crédito, além de reduzir os custos aos tomadores dos empréstimos.

Em setembro do ano passado, o BCE aprofundou sua decisão e cortou a taxa de depósito para o menor patamar da série história, de -0,50%. Isso fez com que alguns bancos indicassem que repassariam esses custos às empresas e consumidores.

Desde que essa política foi adotada na zona do euro, Dinamarca, Japão e Suíça, que também implementaram essa medida, passaram a questionar se ela funciona ou se deve ser abandonada devido aos altos efeitos colaterais ao sistema financeiro nacional.

BCE força redução das margens de bancos

Miguel Boucinha e Lorenzo Burlon, autores do estudo do BCE, reconheceram que a adoção das taxas de juros negativas pressionaram as margens tradicionais dos empréstimos dos grandes bancos da região, mas afirmaram que tal política gerou efeitos positivos em mesmo grau.

Entre os ganhos, segundo os economistas, foi o menor nível de provisões contra inadimplência, ocasionada por menores custos de financiamento e maior crescimento econômico. Além disso, houve maior demanda por crédito e elevação no valor dos títulos de dívida em posse dos bancos.

“As taxas de juros negativas tiveram um impacto amplamente neutro sobre a lucratividade dos bancos até agora, uma vez que seu efeito negativo sobre a receita líquida de juros foi compensado por um efeito positivo sobre a qualidade de crédito”, salientaram os responsáveis pelo estudo.

No entanto, em contraponto às afirmações do BCE, outros economistas, como Yann Koby e Markus Brunnemeier, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, afirmaram que os benefícios dos juros negativos se concentraram apenas no início de sua implementação, como ganhos nos preços dos ativos nos balanços das instituições financeiras. Por outro lado, os efeitos colaterais danosos tem maior duração.

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O banco europeu admitiu que quanto mais tempo as taxa de juros negativos permanecem, menos benéficas elas serão. “No atual cenário de política monetária da zona do euro, os efeitos de um longo período de juros negativos exige um monitoramento contínuo e cuidadoso, uma vez que adentramos mais num território desconhecido”, afirmou o BCE.

A autoridade monetária relatou que, nos últimos seis anos, os bancos quase dobraram a quantidade de dinheiro em seus cofres, para mais de 90 bilhões de euros. Entretanto, é um número inferior aos mais de 6 trilhões depositados na zona do euro.

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No entanto, “isso não ocorreu ao ponto de emitir fortes sinais de um vazamento de liquidez fora do setor bancário em direção aos ativos de curto prazo e altíssima liquidez”, disse o estudo.

Segundo o BCE, as taxas de juros negativas elevaram os empréstimos bancários em aproximadamente 0,7% somente em 2020. Dessa forma, para seus economistas, fomentou o crescimento econômico e a criação de inflação, indo de encontro com seu objetivo inicial.

Jader Lazarini

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