Argentina importa menos do Brasil; topo é disputado pela China

As exportações brasileiras para a Argentina caíram para níveis próximos aos de 2002, auge da crise da nação vizinha. Com isso, cada vez mais a China ameaça assumir  liderança nas exportações aos argentinos.

No início do século, período conturbado politicamente, a Argentina observava sucessíveis trocas na presidências, aumento do desemprego e da pobreza, e o maior calote na sua dívida externa.

Argentina recua nas compras sul-americanas

Não somente em relação ao Brasil, a Argentina também consumiu menos de outros países sul-americanos no primeiro semestre desse ano.

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Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (Indec) da Argentina, o Paraguai, quinto país de onde a Argentina mais exporta, viu o seu volume total cair em -16,7%. Já a Bolívia, que movimentou um volume de U$ 666 milhões e é o sexto país que mais exporta aos argentinos, teve a queda de -14,7% em comparação ao mesmo período do ano passado.

Porém, foi o Brasil que viu seu volume cair drasticamente.

As importações argentinas de produtos brasileiros recuaram 41,7% nos primeiros seis meses, caindo para US$ 5,3 bilhões. Isso representa 21% das importações totais do país – o movimento representava 26% no mesmo período em 2018 – menor participação desde o início da série histórica do Indec, em 2002.

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O cenário é parecido em cálculos locais: queda de 41,6% no primeiro semestre de 2019, a segunda maior baixa dentre os 60 maiores destinos da produção brasileira, somente atrás da registrada pela Venezuela (-52,9%)

Crescimento chinês devido à dependência pelo setor automotivo

Em decorrência dessa brusca queda brasileira, o posto de líder dentre os exportadores à Argentina nunca esteve tão perto de ser ocupada por outro país.

Mesmo que as suas vendas tenham regredido mais que a média (30,4% em comparação a 27,9% do geral no primeiro semestre), a China detêm 17,7% das importações argentinas, apenas 3,3 pontos percentuais do Brasil. Na comparação anual, essa diferença era de 7,7 pontos percentuais.

Segundo José Botafogo Gonçalves, ex-ministro de Indústria e Comércio no fim dos anos 90, e que também foi embaixador na Argentina, a perda de espaço do Brasil neste ano é agravado pela dependência dos negócios no setor automotivo.

Mais de um terço das vendas brasileiras, ou seja, US$ 1,9 bilhão, envolveu esse segmento. Isso representa US$ 2,5 bilhões a menos que esse mesmo período em 2018.

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O declínio da procura argentina, principalmente em veículos, explica o motivo da indústria de transformação de alta-média tecnologia perdeu espaço na pauta exportadora do Brasil. A queda de U$ 2,90 bilhões do primeiro semestre em comparação com 2018 teve participação argentina com a retração de US$ 2,89 bilhões. O peso dessa categoria saiu de 17,4% para 15,4% no período.

Conforme afirma Gonçalves, para melhorar esses resultados, é necessária a convergência das políticas comerciais entre Brasil e Argentina, e que os dois países “deixem de olhar para seus próprios umbigos”, especialmente com a oportunidade de aumento da produtividade com o acordo de Livre Comércio entre Mercosul e União Europeia.

Jader Lazarini

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