Michael Steinhardt e o Círculo de Competência (Parte II)

No Suno Call de hoje, prosseguirei com a história de Michael Steinhardt e seu comportamento com relação ao seu círculo de competência, em continuidade ao tema de ontem.

Em meados da década de 1990, a popularidade dos fundos de hedge explodiu, de modo que os investidores estavam batendo à porta dos gestores implorando para poderem investir em seus fundos.

Parecia que todo investidor sofisticado queria participar deste tipo de fundo. Talvez porque parecia algo exclusivo. “Hedge fund” se tornou uma expressão muito falada. Steinhardt conta, em sua autobiografia, que sua firma foi bombardeada por potenciais investidores que estavam suplicando para que os deixassem investir no fundo.

“Eu não conseguia participar de um evento social sem ser cercado de pedidos para receber dinheiro de potenciais investidores”, disse Steinhardt em sua autobiografia, intitulada “No Bull”.

Enquanto este dinheiro fácil estava disponível, Michael iniciou seu quarto fundo, sendo seu segundo fundo offshore, em 1993: o Steinhardt Overseas Fund. Eles estavam gerindo US$ 5 bilhões – que era uma quantia relevante naquele tempo – e que ainda é relevante atualmente.

Essa grande soma era mais de 200 vezes maior que a quantia com a qual Steinhardt lidou no começo, mesmo com ajustes à inflação. Deste modo, começou a ficar difícil alocar tanto capital naquilo que ele conhecia bem, que eram as small caps e mid caps.

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A entrada em mercados estrangeiros – saída do círculo de competência

Ele estava acostumado ao estilo do mercado americano, porém, o tamanho de seu novo fundo se tornou um inimigo à sua performance. Assim, diante da dificuldade, Steinhardt tomou uma atitude tola: entrou em território desconhecido.

Vale ressaltar que grande parte de seu sucesso era oriundo de seu profundo entendimento dos mercados em que atuava.

Agora, adentrando em mercados estrangeiros, o investidor foi tentado pelo grande potencial de ganhos mostrado pelos mercados emergentes. A grande questão é que Steinhardt não possuía conhecimento acerca dos ambientes de negócios nem dos sistemas políticos deles.

Ele relembra: “Infelizmente, nós fomos adiante sem nenhum receio”.

Ações estrangeiras estavam ligeiramente fora de seu círculo de competência. No entanto, ele resolveu ir mais adiante: o fundo começou a fazer trades com swaps de dívidas nacionais e de câmbio. E Steinhard foi ganhando cada vez mais confiança em suas operações.

Uma frase conhecida de Charlie Munger diz: “Se você joga um jogo no qual outras pessoas têm aptidão e você não, você perderá”. Michael Steinhardt estava, portanto, jogando um jogo em que estava destinado ao fracasso.

excesso de confiança fez com que eles aumentassem as apostas muito mais rápido do que seria considerado prudente. Michael acreditava que ele poderia aplicar seu profundo conhecimento do mercado americano em outros mercados ao redor do mundo. Este foi seu equívoco.

O catalisador do desastre: aumento das taxas de juros

Os problemas chegaram quando o FED aumentou as taxas de juros, em fevereiro de 1994. Isso acabou acarretando queda dos bonds americanos, mas não tão grande quanto a queda dos bonds europeus. Em apenas quatro dias, Steinhardt perdeu US$ 800 milhões.

Colocar tanto dinheiro em algo que você não compreende plenamente é um bom jeito de perder dinheiro. No entanto, um dano maior ainda do que perder essa grande soma foi o desgaste psicológico que restou a partir deste episódio.

O investidor não conseguiu ignorar seus sentimentos. Em suas próprias palavras, ele definiu: “1987 me sacudiu; 1994 foi devastador. Uma parte de mim foi levada e não pode ser recuperada”.

Passado 1994, Steinhardt e os clientes que decidiram permanecer com ele desfrutaram de um retorno de 26% no ano seguinte. Mesmo assim, Michael decidiu se aposentar de suas atividades nesse ano.

Até o começo de 1994, sua carreira havia sido impecável, dando aos seus clientes um retorno anual médio de 31%. Apesar das perdas de 29% em tal ano, Steinhardt ainda foi capaz de manter um dos históricos de retorno mais impressionantes dos que se tem registro.

Se atenha ao seu círculo de competência

Nós não podemos controlar os retornos que o mercado nos dará, mas, se pudermos evitar grandes erros, estaremos com “meio caminho andado”. A parte complicada é que a tentação de desviar do caminho adequado nunca desaparece.

O mau comportamento diante dos investimentos é um dos maiores causadores de danos. Andar para fora de seu círculo de competência é um dos jeitos mais comuns pelos quais investidores falham no aspecto comportamental.

É, portanto, muito importante conhecer o quão amplo é o seu círculo de competência e ficar dentro dele. Reconhecer as coisas que você não sabe e ter disciplina pode fazer toda a diferença.

Por fim, não quero dizer que não devemos sair da zona de conforto, afinal, se não sairmos dela, não expandimos nossos horizontes e, consequentemente, deixamos de ter aprendizados. No entanto, se você deseja se aventurar em áreas que ainda não conhece, vá com calma e racionalidade.

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    Tiago Reis
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    2 comentários

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    • Michel 19 de janeiro de 2021
      Muito bom ! Não conhecia a história dele. Enquanto estamos iniciantes e na fase "não sabemos que não sabemos", acredito que devemos ter heróis, pessoas que mesmo com estratégias e táticas diversas, de alguma forma, chegam lá. Você precisa ver o que funciona, aquilo que o coloca em uma posição de benefício e se isso se adequa a sua personalidade, pois caso não, gerará estresse. Pensar e refletir por conta própria e de maneira racional (de preferência de vários ângulos possíveis) te ajudará imensamente.Responder
      • Suno Research 26 de janeiro de 2021
        Olá, Michel! Tudo certo? Exatamente, esse é o pensamento! Atenciosamente, Equipe Suno.Responder